
Um desentendimento entre os ministros Gilmar Mendes e Luiz Fux interrompeu os trabalhos do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (15). O episódio ocorreu após uma série de críticas de Gilmar à Operação Lava Jato, o que levou Fux a abandonar o plenário antes do fim da sessão. O clima de tensão se estendeu aos bastidores e foi confirmado por integrantes da corte. Com informações da Folha de S.Paulo.
Durante o julgamento de um processo trabalhista, Gilmar voltou a atacar a força-tarefa de Curitiba, chamando procuradores de “cretinos” e citando “desvios ilegais de recursos” administrados por membros do Ministério Público. O decano associou o caso à tentativa de criação de um fundo bilionário pela Lava Jato, sustentado com verbas da Petrobras.
Fux, que havia discutido minutos antes com Gilmar em uma das salas do tribunal, levantou-se e deixou o plenário sem retornar. Segundo ministros ouvidos reservadamente, a saída foi interpretada como um ato de repúdio ao colega. O presidente do STF, Edson Fachin, encerrou a sessão logo após o voto de Gilmar.

Nos bastidores, a tensão começou ainda no intervalo. Gilmar ironizou Fux por ter pedido vista de um processo em que Sergio Moro tenta reverter decisão que o tornou réu por calúnia contra o próprio Gilmar. O placar estava em 4 a 0 contra o ex-juiz quando Fux suspendeu o julgamento.
De acordo com relatos, Gilmar disse a Fux: “Vê se consegue fazer um tratamento de terapia para se livrar da Lava Jato.” Em seguida, fez referência a um ex-assessor do ministro, José Nicolao Salvador, citado em delação premiada, dizendo que Fux deveria “enterrar o assunto do Salvador”.
O tom da conversa elevou-se. Fux respondeu que suspendeu o caso de Moro para estudá-lo melhor e reclamou de falas do colega em outros ambientes. Gilmar retrucou dizendo que “fala mal de Fux publicamente”, chamando o ministro de “figura lamentável”.
O decano também mencionou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, dizendo que Fux teria imposto à Primeira Turma “um voto de 12 horas que não fazia o menor sentido”, ao absolver Bolsonaro e condenar o tenente-coronel Mauro Cid. Segundo relatos, a crítica deixou os demais ministros incomodados.
Gilmar aproveitou o processo em debate para retomar o tema da Lava Jato. Disse que o Brasil criou “um tipo de combatente de corrupção que gosta muito de dinheiro”, em referência aos procuradores da operação, e citou “entrega de provas em saco de supermercado”.
A fala durou cerca de 50 minutos e gerou desconforto generalizado. Fux não voltou ao plenário. Após o encerramento da sessão, nem ele nem Gilmar se manifestaram publicamente.