A situação de racismo enfrentada pelos filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, os pequenos Titi e Bless, durante uma viagem com os pais para Portugal, é um episódio que vitima crianças negras nas escolas, nas ruas, nos aeroportos, nos espaços públicos e privados.
Enquanto a família aproveitava uma praia, uma mulher branca aproximou-se e disse para “tirarem aqueles imundos dali”, ao que a mãe leoa reagiu com uma cusparada na cara da racista.
A violência estendeu-se a uma família de angolanos que também estavam no local, como confirmado em nota pelo casal de atores. A criminosa sugeriu que todos saíssem do restaurante e “voltassem para África”.
Após a resposta no mínimo merecida de Ewbank, a polícia foi acionada e a mulher foi levada.
Evidente dizer que a posição privilegiada de Giovanna e Bruno garantiu que a racista fosse presa, e me chama atenção a reação de alguns ativistas negros na internet.
Muitos apegaram-se ao fato de que, para a branquitude, é fácil “explodir” e cuspir na cara de alguém, mas que, para qualquer dos 15 negros que estavam sofrendo o racismo, isso seria talvez impensável – vivemos em um mundo em que um negro não pode cuspir na cara de um branco – ou deveria ser pensado com muito mais cuidado.
“É fácil para uma mulher branca explodir”, disse Eliana Alves Cruz no Twitter.
Sim, é fácil, mas e daí? Digo: numa situação como essas, e daí?
O ato de Giovanna Ewbank – antes de tudo, uma mãe em defesa dos seus filhos – serviu não apenas aos pequenos Titi e Bless, e também não apenas à família de angolanos ali presentes, mas, enquanto ato estético, à coletividade antirracista de modo geral.
Demonstrou, tornando-se manchete mundial, repúdio absoluto ao racismo em todas as suas formas, e fortaleceu política e esteticamente a ideia de que atos racistas são sórdidos e intoleráveis.
Qual é exatamente o problema nisso?
É claro que devemos pensar sobre o fato de brancos terem mais liberdade – e, porque não dizer, segurança – para reagirem a situações racistas apenas por serem brancos.
Se fosse um dos negros da família angolana, talvez a mulher sequer estivesse presa, e com toda certeza a situação não teria tanto impacto midiático.
Mas algo me diz que condenar o privilégio branco, nesse caso, não é o centro da questão, porque esse privilégio foi usado para uma finalidade nobre – e, antes disso, para a defesa de uma mãe diante de uma agressão aos seus filhos.
A cusparada de Giovanna Ewbank é um ato antirracista que vai muito além de seus filhos, e não suscita aplausos – uma mãe não quer aplausos, uma mãe quer seus filhos a salvo – mas é digno, no mínimo, de algum respeito.
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