A renúncia de Temer é mesmo a melhor saída? Por Mauro Donato

Atualizado em 11 de dezembro de 2016 às 10:17
A tartaruga está pondo a cabeça pra fora
A tartaruga está pondo a cabeça pra fora

 

Michel Temer tem exatos 20 dias para renunciar de maneira a atender o desejo da maioria da população por eleições diretas. Do contrário, quando cair (e não é mais uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’) teremos um novo presidente escolhido indiretamente, a cargo do Congresso Nacional.

Temer já ultrapassa todos os índices da antecessora Dilma Rousseff, mas o Datafolha de hoje revela um percentual inédito e sobre o qual se deve refletir.

Nada menos que 63% da população quer que o pai de Michelzinho e esposo de Marcela renuncie. No auge da rejeição a Dilma, o índice da petista era menor. 62% queriam que ela abandonasse o posto por iniciativa própria. Por que não estão todos nas ruas novamente é algo curioso.

Mas a renúncia a essa altura do campeonato seria mesmo o melhor? Que opções nos seriam apresentadas? Roberto Justus, Sérgio Moro, Joaquim Barbosa, Wesley Safadão?

A rejeição a políticos tradicionais anda fazendo estragos. Vide o Brexit no Reino Unido, os Estados Unidos com Donald Trump e agora a Itália.

Matteo Renzi foi derrotado em sua proposta de reforma constitucional que tentava colocar a casa em ordem (a Itália é uma bagunça ingovernável onde nunca mais ninguém conseguiu concluir o mandato desde a promulgação da Carta após a Segunda Guerra). O voto popular teve motivação impensada e a derrota de Renzi pode fazer com que o espaço seja ocupado ou pela extrema esquerda ou pela extrema direita.

O Brasil dos dias de hoje possui os mesmos traços de comportamento da população e optar por uma solução aventureira à la Trump pode nos colocar diante de um novo impeachment daqui um ano e já com medidas de ‘austeridade’ assinadas e aprovadas.

Consertar é mais difícil (a título de ilustração, para o leitor que não é de São Paulo sugiro que acompanhe o que o ‘gestor/empresário/não-político’ João Doria tem dito antes mesmo de assumir a prefeitura da cidade e veja o retrato acabado da opção feita).

Na outra ponta, pode-se ser surpreendido com um Bolsonaro da vida. Não ocorreria? Bem, ninguém nunca deu bola para as parvoíces de Donald Trump e deu no que deu; franceses não são menos politizados que os brasileiros e Marine Le Pen está nadando de braçada; a Áustria por pouco não elegeu um nazista no último domingo.

Então o que poderia vir no campo dos políticos ‘profissionais’? Engana-se, por exemplo, quem acredita que Aécio Neves esteja fora de combate. O mineiro que tem se safado de todas até agora – é mais que sabido que é amigo de Moro há longa data – não está morto. E mais: está conseguindo também minar Geraldo Alckmin.

O governador paulista vinha ganhando musculatura. Seus aliados foram eleitos nas cidades do interior do estado, seu apadrinhado foi eleito para a capital. Alckmin é um nome forte entre os tucanos. Portanto Aécio esteve se mexendo.

Não é a toa que a delação que vazou os pagamentos destinados ao governador pela Odebrecht se deram agora. Os ‘vazamentos’ são filtrados, seletivos, todo mundo está careca de saber. Divulga-se em determinado momento a delação referente a determinada pessoa conforme a conveniência. Geraldo Alckmin é a bola em favorecimento a Aécio Neves. Isso demonstra o quanto a Lava Jato continua manipulável e como Aécio não esta fora da briga de 2018.

E então, caro leitor? Devemos suportar Michel Temer por mais um ano – lutando com unhas e dentes para barrar seus projetos de arruinar o país – e maturar as alternativas ou devemos ir às urnas já? Eleger por eleger pode ser tão danoso quanto afastar só por afastar. Que tal praticar a cidadania e se envolver com as questões? Está descontente com a reforma da previdência? Lute contra. Está descontente com a PEC 55? Lute contra. Ficar no sofá pedindo a cabeça do presidente irá nos transformar numa Itália muito em breve.