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A resistência brasileira ao golpe realizada em Paris. Por Filipe Galvon

Manifestação do MD18 em 25 de março, na Praça da République. Foto de Fábio Fagu Costa

O texto abaixo foi escrito por Filipe Galvon, documentarista e escritor brasileiro radicado na França. Seus trabalhos, todos gratuitos e disponíveis online, estão disponíveis em http://vimeo.com/filipegalvon. Seu livro de poesia, Animau, está disponível no site da editora 7Letras.

A resistência contra o golpe no Brasil ganhou, definitivamente, proporções internacionais.

Em pouco mais de uma semana, mais de 450 brasileiros residentes na França e em outros países da Europa se mobilizaram pela democracia, com a missão de informar à imprensa e à comunidade internacional o que realmente está acontecendo no Brasil.

Artistas, jornalistas, professores, pesquisadores, estudantes, técnicos, profissionais liberais, brasileiras e brasileiros que se organizaram em Paris e criaram um movimento que já conta com apoiadores em toda a Europa: o MD18 (Movimento Democrático 18 de Março).

O nome faz referência à data da criação do movimento, que aconteceu durante manifestação com cerca de cem pessoas nos arredores do Consulado Brasileiro em Paris, no dia 18 de março, às 18 horas – em sincronia com o ato pró-democracia feito no Brasil.

MD18 é também uma homenagem ao aniversário da Comuna de Paris, que coincidentemente é comemorado no mesmo dia da manifestação. Vale lembrar que a Comuna foi instalada em 1871, quando a população de Paris expulsou a burocracia monarquista para Versalhes, inaugurando a primeira república proletária da História.

Para instalar seu governo, progressista até para os patamares atuais, os communards erguiam barricadas na cidade impedindo a passagem dos agressores. Para lutar contra o golpe, o MD18 organizou uma verdadeira guerrilha midiática cotidiana.

Os organizadores do movimento notaram que parte da grande mídia francesa e de outros países da Europa parece atuar em sintonia com a grande mídia brasileira, reproduzindo notícias de veículos como Globo e Folha, como verdade. E decidiram agir.

Entraram em contato direto com a imprensa francesa e internacional, apresentando fatos, denunciando a manipulação da grande mídia brasileira, partidarizada e comprometida em derrubar o governo.

Lançaram um site e um manifesto nas redes sociais que já conta com a assinatura dos primeiros 116 membros ativos e que reúne ao todo uma rede de mais de 450 apoiadores espalhados por toda a Europa.

Com participação e apoio do deputado Jean Wyllys, promoveram um debate na École des Hautes Études en Sciences Sociales no dia 24 de março para debater a situação política no Brasil.

Já no dia seguinte, reuniram mais de 150 brasileiros na Place de la République para uma grande manifestação que, no entanto, não ganhou repercussão na grande mídia brasileira.

Para o dia 31 de março, junto com as manifestações dos trabalhadores franceses contra a flexibilização das leis trabalhistas, eles prometem um ato ainda maior. E também não esperam encontrar por lá a Rede Globo, a Folha ou o Estadão.

O MD18 vai ter de explicar ao mundo o inexplicável. Explicar que um juiz grampeou ilegalmente a Presidência da República; que a comissão que pretende destituir uma presidente eleita tem 36 membros suspeitos de corrupção; que a elite brasileira é entreguista e quer estabelecer um governo de exceção para colocar o pré-sal à venda, num momento de baixa do preço do petróleo (artificialmente imposta pela Arábia Saudita e aproveitada pelos EUA) – bingo!

Diga-se en passant, que o grupo do MD18 é formado por gente de praticamente todos os estados do Brasil. De diferentes gêneros, diferentes origens sociais. São paulistanos, paraibanos, pernambucanos, paraenses, paranaenses, gaúchos, cariocas… e até franco-brasileiros.

São doutores das classes populares e médias baixas do Brasil, filhos do Prouni e do Ciências Sem Fronteiras. Pessoas que, em boa parte, vieram de lugares que a elite brasileira nem sabe localizar no mapa, embora seja incapaz de ignorar a Europa.

O pessoal do MD18 quer provar que a chamada esquerda caviar, depois da transformação social do país nos governos Lula e Dilma, é hoje a esquerda kebab. Para quem não conhece, kebab é a versão europeia do nosso pão com mortadela.

Os brasileiros organizam a resistência em Paris. E se depender deles, as barricadas serão maiores do que pensam os agressores da democracia brasileira.

Por Filipe Galvon*, com Gabriel Rocha Gaspar* e Daniel Garroux*

*membros do MD18

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