
A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) abriu uma nova fissura entre os políticos de extrema-direita, especialmente entre o chamado “núcleo raiz” do bolsonarismo e governadores aliados que buscam protagonismo eleitoral. As recentes movimentações de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, geraram reação imediata do clã Bolsonaro.
No domingo (17), o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL) publicou em sua conta no X um texto em que atacou duramente os “governadores democráticos”, chamando-os de “ratos”, “cúmplices covardes” e acusando-os de traição. A postagem foi rapidamente compartilhada por Eduardo Bolsonaro (PL).
“A verdade é dura: todos vocês se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e não são em nada diferentes dos petistas que dizem combater. Limitam-se a gritar ‘fora PT’, mas não entregam liderança, não representam o coração do povo. Querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e patética”, escreveu Carluxo.
O ataque veio na esteira do lançamento oficial da pré-candidatura de Zema à Presidência, realizado em São Paulo no sábado (16). O evento, dominado por críticas ao PT e ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), não trouxe menções diretas a Bolsonaro, fato que incomodou o entorno do ex-presidente. “Acho que o Zema errou ao lançar candidatura na semana em que o julgamento de Bolsonaro no STF é marcado”, disse um interlocutor da família ao Metrópoles.

Silas Malafaia, pastor e aliado histórico do bolsonarismo, endossou a reação do filho de Bolsonaro. “Você acha que essa é a hora de alguém se lançar candidato quando um ex-presidente, sem culpa de crime nenhum, está em prisão domiciliar? É hora de alguém arvorar alguma coisa? Por isso que o filho de Bolsonaro, com muita razão, se posicionou. Eu concordo com ele em gênero, número e grau”, afirmou.
Para Malafaia, os presidenciáveis de direita são omissos e não enfrentam de forma direta o ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos contra os aliados do ex-presidente.
Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, por determinação de Moraes, após descumprimento de medidas cautelares. O julgamento da ação que investiga sua participação em tentativa de golpe de Estado em 2022 foi marcado para 2 de setembro pelo ministro Cristiano Zanin, presidente da Primeira Turma do STF.
“Estão, literalmente, enterrando vivo nosso presidente. O outro \[Lula] estava condenado, tiraram da cadeia e colocaram no jogo. O nosso nem condenação possui e estão atropelando e enterrando vivo”, afirmou o vice-prefeito de São Paulo, coronel Mello Araújo (PL), afilhado político do ex-presidente.
Enquanto isso, governadores de direita intensificam agendas junto ao mercado e reforçam o discurso contra Lula. Na última semana, Tarcísio de Freitas participou de um evento do banco BTG Pactual sobre agronegócio e criticou duramente o governo petista. “O Brasil não aguenta mais o Lula”, afirmou.
No mesmo encontro, os governadores Ronaldo Caiado (União), de Goiás, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, também fizeram ataques à gestão federal, destacando suas administrações como exemplos de eficiência. Nenhum deles, contudo, mencionou Bolsonaro ou criticou Moraes.