
Publicado no Facebook de Gustavo Gindre
Quem me segue aqui sabe que eu tento me equilibrar entre o necessário reconhecimento do incrível salto tecnológico chinês, especialmente nas últimas duas décadas, e me tornar uma cheerleader da China (papel a que muitos intelectuais se restringiram).
Dito isso, é necessário reconhecer que a China acaba de promover um terremoto no mundo da inteligência artificial. Antes, contudo, duas premissas:
– Na minha opinião, os atuais modelos de LLM [Large Language Model, ou Grande Modelo de Linguagem] ainda são papagaios estocásticos e não levarão a um sistema artificial que venha a ser realmente inteligente. Isso não significa, entretanto, que a inteligência artificial não seja possível, ela só não ocorrerá através deste modelo.
– O modelo atual das LLMs é inviável por conta da demanda avassaladora de escala. É preciso ter data centers gigantescos, milhões e milhões de processadores, consumir doses cavalares de energia e se utilizar de praticamente tudo o que a humanidade já escreveu. E mesmo assim ainda seria necessário mais e mais.
Daí vem a DeepSeek e lança uma IA que opera no estado da arte do setor, usando muito menos (e mais baratos) processadores, consumindo menos energia e com código fonte aberto.
Imagina o terremoto!!! Sumiram hoje mais de US$ 700 bilhões nas bolsas. Perderam as gigantes Google, Amazon, Meta e Apple. Perdeu a OpenAI. Perderam as fabricantes de data centers. E perdeu, principalmente, a NVIDIA (que se tornou a coqueluche dos processadores para inteligência artificial).
Mas, mais importante, chama a atenção para o erro que os Estados Unidos estão cometendo na guerra comercial contra a China. Como eu já brinquei aqui, faltou um Kissinger para chamar a China para dançar. Porque o máximo que os Estados Unidos conseguirão é sangrar a China no curto prazo. Vão apenas retardar algo que é inevitável.
No médio/longo prazo haverá lentes de uma Carl Zeiss da China, litografias de uma sino ASML [empresa multinacional holandesa e o maior fornecedor de sistemas de litografia para a indústria de semicondutores] e processadores de uma dublê chinesa da TSMC [empresa multinacional taiwanesa de contratos de fabricação de semicondutores].
E, com isso, será inevitável que a China venha a se tornar inescapável no mundo da inteligência artificial. É bem possível, inclusive, que, do ambiente de startups de onde veio a DeepSeek, surjam várias outras concorrentes.