A semana dos mimimis; há duas ainda para serem democratas. Por Fernando Brito

Atualizado em 14 de outubro de 2018 às 22:10

Publicado originalmente no Tijolaço

POR FERNANDO BRITO, jornalista 

A esta hora, uma semana atrás, todos assistiam surpresos a onda direitista que levou Jair Bolsonaro  às soleiras da vitória eleitoral.

É tempo suficiente para que qualquer um se recobre do que se passou e venha formar na trincheira de um democracia em perigo, indubitavelmente em perigo para qualquer um que veja o óbvio  conteúdo autoritário de quem tem uma trajetória como a dele, salpicada a não mais poder de espasmos ditatoriais, liderando um ajuntamento mambembe de filhos, aderentes, policiais, picaretas e – mais grave –  de ex-oficiais que se adonaram politicamente das Forças Armadas.

Não se pode, já se disse aqui uma vez, acusar Jair Bolsonaro, mesmo com suas recentes juras democratas, de não ter avisado que será um governante tão autoritário e truculento quanto lhe seja possível.

Até agora, os líderes políticos fora da esquerda  e alguns do campo progressista se omitiram, com as alegações mais pueris, alguns pretendendo uma “autocrítica”impossível em “tempos de guerra”, mas que se realiza com muito mais veracidade na atitude de abertura fraterna e até humilde de Fernando Haddad.

Mais claro?

Não há “terceira via” possível senão a que com junto com ele se construa. Nem  “EleNão” que deixe de passar por um HaddadSim. Nem mesmo a hipótese delirante de uma renúncia dele em favor de Ciro seria algo plausível: quem teve menos, muito menos, votos no primeiro turno não pode acreditar que ele pudesse arrastar o eleitorado lulista que deu os quase 30% ao candidato petista.

Como não escrevo para crianças, poupo-me de considerações sobre contos da Carochinha.

Trato apenas da ilusão de que, derrotado o PT por falta de apoio nestas eleições, fosse abrir-se um campo para uma “nova oposição” a um eventual Governo Bolsonaro.

Nada mais tolo, senhores estrátegos de botequim.

À ditadura, não há oposição, mas resistência e nela parte mal quem se recusou a resistir quando podia.

Se não vêem que teremos uma ditadura  e não um governo, o melhor adjetivo que merecerão será o de cegos. Como os sinais são evidentes, é mais provável que tenham o de cúmplices.

Haddad, hoje, representa uma saída que busca a conciliação, a unidade, a ampliação sadia do leque democrático.

Triunfante o fascismo, será o PT o alvo da onda repressiva, mas a máquina policial-judicial e, livre-nos deus, militar tem apetites  que, para quem o duvide a onda moralista que impulsionaram, levará a todos de roldão.

A ondas vêm e vão. Passam.

Quem é pedra,fica. Quem é só alga, sem raízes, acaba por ser arrancado e flutuará à deriva e se desfará em pedaços.

O Brasil precisa de vocês. Mas, se vocês faltarem, talvez não precise mais.