Os seios da duquesa e o jornalismo de celebridades

Atualizado em 18 de setembro de 2012 às 19:27
Kate

Se você não quer ser fotografada fazendo topless, há uma receita infalível: não faça topless.

Kate Middleton, a Duquesa de Cambridge, ignorou essa verdade universal, e agora seus seios estão sendo observados freneticamente pela humanidade.

Um fotógrafo de celebridades tirou, à distância, fotos do casal Kate-William na aparente reclusão deslumbrante de uma praia na Provença, na França, dias atrás. Tentou vendê-las na Inglaterra, mas os tabloides londrinos estão amedrontados por conta do escândalo dos celulares e recusaram. (Embora o Sun de Murdoch tenha recentemente dado fotos do Príncipe Harry de bunda de fora em Las Vegas.) Então o fotógrafo vendeu para uma revista de fofocas francesa chamada Closer, do grupo Mondadori.

Entre os britânicos, a reação tem misturado indignação e raiva. A voz rouca das ruas, manifesta nos comentários que os internautas estão colocando nos artigos que tratam da seminudez real, tem condenado vigorosamente a invasão de privacidade. A família real está estudando a possibilidade de processar a revista e o fotógrafo.

Em meio à fúria coletiva, algumas pessoas resguardam o humor inglês. Uma conta fajuta do Príncipe Charles no twitter, por exemplo, afirmou o seguinte: “Pensando seriamente em invadir a França”. Um outro tuiteiro escreveu: “Incrível. Em todo o Reino Unido as pessoas estão atacando furiosamente as fotos de Kate ao mesmo tempo em que procuram por elas loucamente no Google.” Alguém também lembrou: “Finalmente temos um motivo para bombardear a França”.

Não é necessário dissertar, no Diário, sobre quanto é desprezível o jornalismo de celebridades praticado pela Closer e por tantas revistas no mundo inteiro. No Brasil, este subgênero está representado em revistas como Caras e Quem.

É um tipo de jornalismo puramente mercantil, em que a causa é apenas o dinheiro. O público é deseducado pelas publicações de celebridades, e os jornalistas que trabalham nelas acabam completamente deformados. Passam a achar que capítulos de novelas são notícias.

Quanto mais civilizada é a sociedade de um país, menos publicações de celebridades existem em suas bancas de jornais. Não vi uma única revista de mexericos nas bancas de Oslo ou de Reiquijavique, cidades que visitei em missões jornalísticas recentes.

Dito isto, os britânicos não têm muitas razões para reclamar de uma cultura jornalística abjeta que eles próprios cultivaram tanto, nas últimas décadas, com seus tablóides.

A sede de sangue do jornalismo de celebridades não escolhe vítimas. A editora Montadori, da revista Closer, pertence a Silvio Berlusconi, o pândego ex-premiê italiano cujas festas orgiásticas na Sardenha foram registradas com detalhes por um fotógrafo que agiu à distância. Ninguém, exceto Berlusconi, se indignou com a invasão de privacidade.

O jornalismo de celebridades só existe porque as pessoas consomem fofocas em grande quantidade. A melhor maneira de combatê-lo é, simplesmente, não o consumindo.

Mas de verdade, e não de mentirinha. O que temos hoje é o falso boicote, como notou com agudeza um tuitador inglês: as pessoas vociferam contra coisas como as fotos de Kate ao mesmo tempo que querem desesperadamente vê-las.