A sepultura que o prefeito de São Paulo cava para si próprio. Por José Cássio

Atualizado em 26 de fevereiro de 2019 às 6:30
Flávio Rocha, João Doria Jr. e Bruno Covas. Foto: Divulgação/Twitter/Doria

Bruno Covas está cavando a própria sepultura ao embarcar na aventura ultra reacionária de João Doria no PSDB.

Como medo de ser retaliado no ano que vem, quando disputa a reeleição, o prefeito de São Paulo decidiu apoiar incondicionalmente o gestor na sua tresloucada guinada à direita radical para tirar da linha de frente o que ele classifica de ‘comunistas’ do partido.

Bruno erra por dois motivos, fundamentalmente.

Primeiro: não é o candidato dos sonhos de Doria, que já optou pelo seu secretário da Fazenda, Henrique Meirelles.

Segundo: ao abraçar o plano do governador, está abrindo mão do bem mais valioso que tem na vida pública: a tradição do nome e o grupo que cresceu junto com seu avô, o velho Mário Covas.
Vejamos o caso de Geraldo Alckmin.

O ex-governador e atual presidente nacional do PSDB teve atuação decisiva na escolha de Bruno para vice na chapa vitoriosa de João Doria em 2016.

Sem o apoio de Geraldo, Bruno não estaria no comando da capital.
Sua indicação teve o apoio de Serra, Aloysio, Goldman e Fernando Henrique, medalhões que Doria quer varrer do partido em maio, quando seu indicado, o ex-deputado e ex-ministro Bruno Araújo assumir o comando da sigla.

Escondidinho no seu escritório em São Paulo, como gosta de dizer a quem vai visita-lo, Geraldo é um poço de descontentamento.
Instigado a falar, diz que o compasso é de espera. E discorre sobre o conceito de “dois pesos e duas medidas”, a lei que, segundo ele, vem movendo os tucanos sob Doria.

Conta a história de Renata Covas, Goldman, Bruno e Mário Covas Neto, o
Zuzinha.

Renata, mãe de Bruno, militante do PSDB de Santos, é uma ardorosa defensora da expulsão de Goldman por “infidelidade partidária”.

O ex quercista de fato trabalhou pela eleição de Márcio França no ano passado.

Não só trabalhou como declinou o voto nas redes sociais – esse é o argumento que Renata e o filho Bruno usam para defender a sua expulsão.
Geraldo lembra seus interlocutores que Bruno também trabalhou e declinou seu voto a um candidato de outro partido: seu tio Zuzinha, do Podemos, que concorreu ao Senado contra os tucanos Ricardo Trípoli e Mara Gabrilli.

“Neste caso não houve quebra de fidelidade?”, pergunta.
Nesta segunda, o presidente estadual do PSDB paulista, Pedro Tobias, surpreendeu o partido com uma carta de renúncia.
“Não sou ‘office boy’ de governador e prefeito”, disse ao repórter Pedro Wenceslau, do Estadão. “O PSDB virou uma zona”.

É aí que mora o perigo para Bruno.

João Doria, sem pudor, está desconfigurando um projeto de 30 anos.
Na semana passada, Geraldo conseguiu segurar na executiva nacional a intenção de Doria de expulsar Goldman, Saulo de Castro e o prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa.

Isso só até maio, quando Bruno Araújo assume e começa a limpeza que vai levar o partido para a extrema direita – a ideia de Doria é disputar o eleitor que hoje está com Jair Bolsonaro e filhos.

Usando uma expressão popular, Bruno Covas está cuspindo no prato que comeu. Ou seja, está traindo aqueles que o ajudaram a chegar onde está.
Pior: ao agir como Doria e se deixar contaminar pelo ódio no trato com oponentes internos, trabalha na construção da própria sepultura.

Vai perder o apoio dos velhos companheiros e pagar os pecados na mão de alguém que não acredita nas suas potencialidades e portanto não vai mover uma palha para ajudá-lo no futuro.

Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo