
Por Jean Paul Prates
Com a sinalização de que os Estados Unidos pretendem impor um conjunto de sanções unilaterais contra autoridades brasileiras — desde restrições financeiras até a expulsão de nossa embaixadora em Washington — o Brasil precisa responder com serenidade, assertividade e clareza estratégica.
Se confirmadas, essas ações representarão não apenas um ponto baixo na relação bilateral, mas uma violação frontal aos princípios de respeito mútuo e não intervenção que regem o direito internacional.
Nenhuma potência tem legitimidade para tentar impor desfechos políticos ou institucionais a um país soberano por meio de sanções ou coerção diplomática.
A reação brasileira deve ser executada de forma firme, mas responsável, gradual e proporcional:
📍 Reações do Brasil — Curto Prazo (dias a semanas)
- Resposta diplomática imediata:
- Convocar o embaixador brasileiro em Washington para consultas.
- Emitir nota oficial de protesto contra a violação do princípio da não intervenção em assuntos internos, evocando o direito internacional e as convenções de Viena.
- Buscar apoio internacional, iniciando articulação com países do G20, BRICS e CELAC, denunciando o ato como agressão diplomática unilateral e inoportuna.
2. Medidas de reciprocidade graduada
- Se houver expulsão de diplomatas brasileiros: expulsar funcionários diplomáticos norte-americanos em reciprocidade direta e proporcional.
- Suspender ou revisar cooperações bilaterais específicas (ex.: acordos de intercâmbio tecnológico militar, cooperação ambiental em áreas sensíveis).

📍 Reações de Médio Prazo (meses)
- Recalibragem da política externa Redirecionar a política externa brasileira para reforçar alianças estratégicas alternativas:
- Intensificar relações com a União Europeia, China, países árabes e africanos.
- Reativar de forma proativa mecanismos como UNASUL e CELAC.
- Avançar parcerias estratégicas no âmbito dos BRICS+.
2. Blindagem econômica
- Avaliar exposição do Brasil a sanções secundárias e ao sistema financeiro dos EUA (via dólar, bancos, fornecedores), especialmente no comércio exterior e investimentos diretos.
- Iniciar transações bilaterais com parceiros estratégicos em moedas locais, reduzindo dependência do dólar (seguir modelo China-Rússia, Índia-Emirados).
- Buscar suporte de organismos multilaterais (OMC, FMI, G77) para denunciar efeitos extraterritoriais de sanções.
📍 Reações de Longo Prazo (anos)
- Reposicionamento geopolítico
- Caso a deterioração seja irreversível, consolidar o Brasil como potência autônoma do Sul Global.
- Fortalecer presença em fóruns internacionais como ONU, OCDE (sem se submeter a pressões de alinhamento automático), OMC, e fortalecer o Mercosul.
2. Modernização da capacidade diplomática e de defesa
- Investir na autonomia diplomática e militar, com reforço do Itamaraty e da Base Industrial de Defesa nacional.
- Estimular o debate público e parlamentar sobre política externa soberana e plural, para que não seja refém de polarizações internas ou alianças assimétricas.
🟡 Essas sanções — se vierem — não são contra um governo ou partido, mas contra o princípio fundamental da soberania nacional. Precisamos de união institucional para reagir com firmeza e maturidade.
- Evitar escalada retórica: manter firmeza, mas sem confronto gratuito.
- Reforçar protagonismo internacional autônomo, sem cair em nova bipolaridade (China vs EUA).
- Conduzir consulta ampla com Congresso e sociedade civil sobre as consequências e diretrizes da política externa do Brasil.
- Lançar uma diplomacia de reconstrução e mediação com apoio de países aliados e neutros (Noruega, França, África do Sul, México).
- Proteger ativos estratégicos brasileiros no exterior de eventuais bloqueios.
A diplomacia brasileira já demonstrou, no passado, que é capaz de agir com grandeza. Que seja assim novamente — não para confrontar, mas para liderar pelo exemplo.
Publicado originalmente aqui