A sociedade precisa traçar os limites das redes sociais. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 12 de abril de 2023 às 23:48
Logo do Twitter. Foto: Reprodução

Na capa Folha de hoje: “Twitter rejeita tirar posts que fazem apologia da violência. Em reunião com o governo, o Twitter disse que não removeria conteúdo com apologia da violência nas escolas, sob o argumento de que o termo de uso permite a divulgação. Procurada, a empresa respondeu ao email com um emoji de cocô”.

Em suma, ontem, o Twitter:

  • Assumiu sua indiferença quanto às consequências do que é postado nele, mesmo que a consequência seja a morte de crianças;
  • Afirmou que seus “termos de uso” privados valem mais do que a lei; e
  • Manifestou sua recusa a prestar esclarecimentos à sociedade sobre suas decisões.

(A resposta à imprensa com emoji de cocô é padrão e foi determinada pessoalmente por Elon Musk.)

Resposta do Twitter ao e-mail enviado pelo DCM, com um emoji de cocô. Reprodução

O que a gente deve fazer? Aceitar essa situação, assumir nossa impotência diante das plataformas digitais?

Ou boicotar o Twitter, como forma de manifestar nosso repúdio?

Não tenho “lugar de fala” nesse debate, já que “boicoto” o Twitter há muito tempo, simplesmente por não suportar seu modelo de debate – ou de ausência de debate, para me expressar melhor.

Boicotar o Twitter, para mim, é como boicotar o Habib’s ou a SmartFit: custo zero.

O Twitter é chato. Parece exigir investimento de tempo e energia ainda maior que outras redes, dada a rapidez com que o conteúdo vai sendo atualizado.

O limite de tamanho favorece lacração e agressividade em vez de debate. Quanto mais injurioso e insolente o tuíte, maior o potencial de sucesso.

Os “fios” que burlam o limite de tamanho são um contrassenso e um pé no saco.

Mas não creio que boicote seja a solução. Primeiro, por exigir uma coordenação de um número gigantesco de usuários. Depois, porque, tendo sucesso, deixa terreno livre para os extremistas, que ficam com um espaço só deles.

O caminho passa necessariamente pela regulação pública das mídias sociais. A sociedade precisa traçar os limites – e isso inclui desde controlar os algoritmos, para reduzir a manipulação, até responsabilizar as plataformas que são inertes ou cúmplices diante de conteúdos criminosos.

Não é uma batalha fácil, mas está longe de ser impossível.

A Europa tem avançado na regulação das gigantes da internet. O Brasil também tem como avançar. O Twitter tem muito a perder caso seja banido de um mercado como o nosso.

Há muita coisa em jogo, da democracia à saúde mental e à vida das crianças.

Publicado originalmente no Facebook do autor

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.