A solidariedade suicida a Joice Hasselmann, que está colhendo o ódio que plantou. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 6 de novembro de 2019 às 20:12
Joice Hasselmann mostra seu caráter

Ter que lidar com as prioridades eleitas pelos identitários é uma das coisas difíceis em ser de esquerda no Brasil de 2019. 

Já discutimos a negritude de Anitta, surtamos com o “beijo gay” de Nego do Borel e vivemos pra ver defenderem Janaína Paschoal, pobre vítima de  gaslighting, enquanto ela vendia uma petição para a concretização de um golpe machista e armava seus conluios agora confirmados com a turma do PSL – pois é, também não faz sentido pra mim.

Agora foi a vez de Joice Hasselmann cair nas graças da ciranda: basta um coitadismo barato para alguns esquecerem que ela mesma plantou a desgraça da qual se queixa.

Ameaças aos seus filhos, ofensas de cunho discriminatório e machista, montagens maldosas – essas opressões reclamadas por Joice chorosa no plenário te parecem familiares?

Quando o neto de Lula morreu, zombaram e fizeram memes – uma criança. 

A morte de Dona Marisa virou piada e até propaganda de loja de roupa, o auge do oportunismo e da insensibilidade. 

Sabe-se lá o quanto da perseguição sádica empreendida contra ela e sua família contribuiu para diminuir seus dias na terra. 

Dilma teve sua foto em uma montagem, de pernas abertas, nos tanques de milhares de carros pelo Brasil. Uma alusão clara ao estupro. 

Quem intercedeu? A turma do antipetismo estava lá, aplaudindo. 

Ao se queixar por ser chamada de porca na internet, Joice parece esquecer que ajudou e ajuda a fortalecer no Brasil uma cultura da barbárie. 

Não é uma questão de decidir se ela merece ou não ser atacada – obviamente, ninguém merece –  trata-se de simplesmente reconhecer que, no Brasil de Bolsonaro, é disso pra baixo.

O império do ódio foi erguido e ninguém está a salvo – a não ser os amantes da micropolítica dispostos a salvarem a si mesmos. 

Coadunar com o elogio à tortura, a derrocada da democracia, o ódio, a discriminação e a violência, e depois reclamar por comer o fruto amargo do próprio neofascismo é o cúmulo da cara de pau.  

Menos, Joicinha. Você pediu, agora chupa.

Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.