Como o goleiro Tim Krul entrou subitamente na história da Copa

Atualizado em 6 de julho de 2014 às 21:14
Krul disse a cada cobrador que sabia o que ele ia fazer
Krul disse a cada cobrador que sabia o que ele ia fazer

Ladies & Gentlemen:

Entre as maiores personagens desta Copa irrompeu, subitamente, um goleiro grandalhão.

Tim Krul, da Holanda, jogou apenas um minuto, o suficiente para que ele defendesse sua seleção na disputa de pênaltis contra a Costa Rica.

Ninguém entendeu a substituição que o técnico da Holanda Van Gaal promoveu no gol nos últimos instantes da prorrogação.

Só o próprio Van Gaal e Krull.

O técnico dissera ao goleiro reserva que, caso o jogo fosse aos pênaltis, ele entraria. Pediu reserva. Ninguém mais foi avisado, nem o goleiro titular, Jasper Cillessen.

Exatamente por isso, Cillessen chutou uma garrafa d’água depois de ser substituído.

Van Gaal explicou sua decisão com dois argumentos. Primeiro, por ser mais alto e possuir maior envergadura, Krul teria mais chances de defesa.

Depois, como goleiro do Newcastle, ele tinha um retrospecto melhor que o de Cillessen em pênaltis.

Ladies & Gentlemen: tudo foi programado, numa lição sobre como se ganha uma disputa de pênalti. Big Phil, contra o Chile, caçava voluntários para bater os pênaltis. A tevê mostrou uma folha com o nome digitado de cada holandês escalado para a hora decisiva. Planejamento soberbo e inspirador.

Krul estudou as cobranças dos jogadores da Costa Rica contra a Grécia.

E disse isso a cada um deles. Vocês provavelmente viram as imagens de Krul se dirigindo a cada cobrador costa-riquenho.

“Eu disse que tinha estudado as cobranças e sabia como eles iriam bater os pênaltis”, contou ele depois.

O que aconteceu: todos inverteram o lado em que tinham chutado, e era isso que Krul previra.

Ele pulou na direção certa em todas as cobranças. Pegou duas, e isso levou a Holanda às semifinais contra a Argentina.

A ousadia de Van Gaal foi um dos pontos mais altos da Copa.  Como torcedor do Man City não me agrada a ideia de que ele será o próximo técnico do abominável United.

E graças a essa ousadia Krul fez história. Nas imagens da Copa, brilharão para sempre suas defesas tão bem planejadas – e suas conversas definitivamente intimidadoras, ainda que sem erguer a voz, com os cobradores rivais.

Sincerely.

Scott

Tradução: Erika Kazumi Nakamura

Aos 53 anos, o jornalista inglês Scott Moore passou toda a sua vida adulta amargurado com o jejum do Manchester City, seu amado time, na Premier League. Para piorar o ressentimento, ele ainda precisou assistir ao rival United conquistando 12 títulos neste período de seca. Revigorado com a vitória dos Blues nesta temporada, depois de 44 anos na fila, Scott voltou a acreditar no futebol e agora traz sua paixão às páginas do Diário.