A supremacia do Barça em 12 pontos

Atualizado em 8 de junho de 2015 às 9:20

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Por Gustavo Carrate, do Conexão Fute.

 

1 – O equilíbrio sugerido por uma decisão de Liga dos Campeões entre duas equipes dominantes em seus respectivos países nos últimos anos não apareceu com a prontidão esperada. No quarto minuto, o Barcelona já estava na área da Juventus com cinco jogadores para inaugurar o marcador. Neymar queria que alguns centésimos de segundo passassem para que ele pudesse acionar Iniesta em velocidade, e para isso fintou Barzagli, o substituto de Chiellini. Iniesta queria fazer o que faz de melhor, e para isso serviu Rakitic. Daí para o primeiro gol, uma mera formalidade.

2 – Os movimentos seguintes ao gol de Rakitic mostraram uma Juventus receosa, com apenas uma ou outra tentativa de ataque, e um Barcelona soberano. Com a ponta direita sendo abandonada por Messi, que organizava a equipe a partir das intermediárias e deixava o corredor livre para Daniel Alves realizar sucessivas ultrapassagens, todas as qualidades ofensivas de seus companheiros eram evidenciadas. A posse de bola chegou a ser de 68%. Se ainda houvesse quem acreditasse que os culés não eram muito mais do que um trio de ataque poderoso, antes mesmo dos 20 minutos não havia mais.

3 – Com o Barça mais presente no campo de ataque, Vidal afastou-se de Tévez e Morata nas fases defensivas e, assim, colaborou para que a Juventus encontrasse gradualmente o equilíbrio do jogo. Com maior compactação dos italianos, o domínio territorial catalão deixou de ser algo tão perigoso. O ponto negativo era que, naquele momento, uma defesa consistente ainda estava muito aquém do necessário.

4 – A metade final do primeiro tempo garantiu uma ida mais tranquila dos bianconeri para o intervalo. A reação ainda não havia passado de um esboço. De concreto, afinal, foram apenas uma marcação sob pressão que dificultava a saída de bola dos defensores rivais e alguns bons ataques cujas finalizações tomaram o rumo errado. Mas já estava claro que o time em desvantagem no placar, que sofria com a excelente atuação de Piqué e a não plenitude do magistral meio de campo formado por Pirlo, Pogba, Marchisio e Vidal, havia encorpado.

5 – Na segunda etapa, a ânsia italiana na busca pelo empate quase definiu o confronto com 42 minutos de antecedência. Em um contra-ataque fulminante, eram cinco culés contra três adversários correndo de frente para a meta italiana. O passe de Rakitic saiu no momento exato, a finalização de Suárez também não poderia ter sido melhor, mas quem estava lá era Buffon.

6 – O gol de empate da Juventus foi uma justa coroação para a valentia dos comandados por Massimiliano Allegri, nada simpático à ideia de, uma vez que a desvantagem era mínima e poderia ser dissolvida em uma tentativa de ataque qualquer, não correr riscos. Embora a estranhíssima tentativa de Daniel Alves em sair jogando não possa ser esquecida, o que ficam são o primoroso passe de calcanhar de Marchisio, a potência física de Lichtsteiner, a presença aguerrida de Tévez e o oportunismo de Morata, autor de três dos últimos quatro gols de sua equipe na Liga dos Campeões.

7 – A balança da decisão estava pendendo para o lado alvinegro quando Suárez aproveitou o rebote dado por Buffon em uma forte finalização de Messi. O domínio territorial começava a trocar de mãos, e Ter Stegen assistiu ao jogo muito mais de perto do que na etapa inicial. Medir forças contra o time de três dos melhores atacantes do mundo, no entanto, está longe de ser uma missão com grandes chances de sucesso.

8 – Transcorridos todos os minutos restantes de uma final de alto nível, coube a Neymar confirmar de vez o quinto título europeu da história do Barcelona. Foi o 122º gol do trio MSN em uma temporada histórica, que desperta previsões positivas para os anos que ainda estão por vir até mesmo nos culés menos eufóricos. Aos 23 anos, o brasileiro já foi campeão – com inegável protagonismo e balançando as redes nos dois jogos derradeiros – da Libertadores e da Liga dos Campeões. E ainda há quem duvide de seu potencial.

9 – Com a certeza de que deixou tudo o que tinha em campo, a Juventus encerra a sua aventura continental de cabeça erguida, e sedenta por mais oportunidades futuras para demonstrar que o domínio em território italiano não é mais o bastante. As baixas que devem acontecer no elenco tetracampeão italiano são sensíveis, mas a reinvenção pela qual o clube passou na metade final da última década não deixa margens para dúvidas sobre a capacidade bianconera de superar os desafios que irão se apresentar.

10 – Se alguém tivesse dito em janeiro que o Barcelona de Luis Enrique seria campeão do Campeonato Espanhol, da Copa da Espanha e da Liga dos Campeões – um feito do futebol mundial alcançado duas vezes somente pelos catalães, em 2009 e agora -, seria gentilmente convidado a se internar. A história da temporada 2014-15 desenhava-se repleta de tudo, como crises institucionais, processos judiciais, demissões de ícones diretivos e infindáveis problemas de relacionamento entre técnico e jogadores. Em junho, porém, o mais difícil é duvidar de sua capacidade.

11 – Qualquer comparação entre este esquadrão e o de Guardiola soará como o mais retumbante exagero, já que aquele parou de conversar com os melhores times de sua época e passou a frequentar as mesmas rodas de conversa dos maiores da história. Mas, dentro desta dimensão mais terrena, não parece ser daqueles que deixará escapar o nível de competitividade alcançado com tanto suor.

e 12 – Agora sem Xavi, inicia-se oficialmente um novo ciclo na história do clube que mais esteve presente nos sonhos dos apaixonados por futebol no Século 21. Substituir o principal responsável intelectual por um esquadrão tão vencedor é devaneio, mas alternativas a este modelo são passíveis de serem encontradas e, portanto, fazem-se necessárias. Detalhes que, sem alterar a essência do jogo catalão, permita mudanças saudáveis após a saída do eterno camisa 6. Nesta temporada, com Messi, Suárez e Neymar sendo o fator de desequilíbrio para um jogo coletivo consolidado, e não a arma que mascara todos os defeitos de uma equipe, já foi dado um bom primeiro passo.