A tática dos estudantes para tentar driblar a violência da PM de Alckmin. Por Mauro Donato

Atualizado em 4 de dezembro de 2015 às 9:10
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“Quero fazer amor com você”

 

Diante da rigidez de Alckmin, a flexibilidade dos estudantes. O desdobramento das ocupações das escolas se dá em ocupações de ruas e avenidas concretizando o grito de “se a escola fechar, a cidade vai parar.”

Os estudantes dão a cara a tapa. Não têm medo. Sabem que irão apanhar, mas a causa é maior. Como num flash mob decidem rapidamente quais ruas serão interditadas e surgem de surpresa, carregando cadeiras e faixas. Em poucos minutos interrompem o trânsito das principais vias de São Paulo. E tome porrada e bomba.

Na manifestação acompanhada pelo DCM na tarde desta quinta-feira  (3), não teve tiro. Mas não faltou a ameaçadora escopeta apontada para os adolescentes. Uma mãe se desesperou ao ver a arma ‘não letal’ apontada para os jovens e foi tirar satisfação com o comandante. “Esse é seu trabalho? Vai bater em criança, você não tem vergonha não?” Levou um grotesco empurrão com um escudo. Uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral é lançada. Ao menos três pessoas foram feridas por estilhaços.

Impedida pela Justiça de colocar em prática as reintegrações de posse das escolas ocupadas, a Polícia Militar tem se esbaldado com os protestos dos alunos realizados do lado de fora. Nas ruas, demonstra toda sua sanha. Quebra a cadeira na cabeça de aluno, enfia murro na cara como se em briga de rua, da golpes de cacetete nas pernas de meninas, prende adolescentes como se fossem bandidos.

Está na hora da revisão: vamos repetir? Estudantes. Adolescentes. Alunos.

Ao final do protesto de ontem, 14 deles foram detidos. Já são mais de 30 no total e muitos feridos. O que está possibilitando essa barbaridade?

Já noticiamos aqui no DCM que jornalistas da grande mídia foram instruídos a não abordar o assunto de outra forma que não seja favoravelmente ao plano de reorganização do ensino proposto pelo governo. E isso é mais facilmente percebido nas ruas do que vendo os telejornais. Com essa cobertura, a polícia recebeu um cheque em branco. Poucas vezes em manifestações vi tantas expressões raivosas e reações desmedidas de policiais. Tudo bem, exagero, já vi muito piores afinal estamos falando da PM, mas quando se trata de repressão a adolescentes não há como não se revoltar.

Pela manhã, o estudante Elissandro Dias Siqueira ficou pendurado como em um pau-de-arara do Doi-Codi. Enquanto era carregado, suas calças caíram e ele assim foi mantido, humilhado em plena rua. Se fosse seu filho, o que você faria?

O Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), classificou ontem como “verdadeiro atentado” contra os direitos de crianças e adolescentes essas medidas de repressão adotadas depois do chefe de gabinete da Secretaria de Educação declarar guerra. E como em guerra vale tudo, há ainda uma outra covardia sendo praticada nas prisões realizadas. Dada a participação de menores nos protestos, quando um manifestante detido é maior de idade está sendo acudado de aliciamento de menores. Isso é um golpe baixo repugnante.

O governo Alckmin diz estar aberto ao diálogo, mas publica o decreto assim mesmo. Diz estar aberto ao diálogo, mas joga a PM em cima. Diz estar aberto ao diálogo, mas pratica coação na imprensa.

Como na realidade não ouvem ninguém, secretaria de segurança e governador afirmam que não irão tolerar o fechamento de ruas uma vez que impede o ‘sagrado’ direito de ir e vir (sempre tirado da manga e pelo visto mais importante que o direito à educação). Mas o curioso é que na noite anterior, 30 pessoas pararam a avenida Paulista para ‘comemorar’ a bertura do processo de impeachment de Dilma.

A polícia não chegou batendo e lançando bombas por que? Quando a causa é simpática ao governador daí tudo bem? Então não é uma questão técnica ou legal, há um fundo político nas ações determinadas por ele. Não é ele quem diz o tempo todo que o movimento dos alunos não é legítimo pois é político?

E até onde vai isso? Simples. Com a pesquisa Datafolha divulgada hoje sinalizando a popularidade de Alckmin em queda livre, é certo que ele irá recuar. E mais uma vez isso nada tem a ver com uma preocupação com a educação ou respeito ao direito de manifestação. Terá sido simplesmente para salvar a própria pele.

 

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