A tática macabra de Bolsonaro para adiar a vacinação. Por Moisés Mendes

Atualizado em 6 de dezembro de 2020 às 8:53
Bolsonaro não consegue nem colocar uma máscara

Publicado originalmente no blog do autor

Há uma teoria que oferece um método ao atraso deliberado no plano de vacinação no Brasil. Quanto mais atrasar o planejamento da imunização contra a Covid-19, mais Bolsonaro ganha tempo para que Paulo Guedes tente recuperar a economia.

De acordo com essa tática macabra, é possível, depois que o PIB teve alta de 7,7% no terceiro trimestre, esperar que a produção reaja a partir de agora e alguns empregos reapareçam. Tudo em meio ao segundo surto da pandemia.

Nesse ambiente, não haveria pressa para a imunização. Bolsonaro ganharia tempo, depois de ter subestimado e mascarado a extensão da pandemia, chegando ao ponto de armazenar testes que talvez nunca venham a ser usados.

O outro cenário, com a vacina, seria este. Se as pessoas forem vacinadas logo no início do ano, ainda num ambiente de insegurança econômica e com o fim do benefício emergencial, Bolsonaro poderá enfrentar um clima hostil e até revoltas nas ruas.

É uma tese esdrúxula? No Brasil de Bolsonaro, nada mais é surpreendente ou exótico. O sujeito boicotou a vacina desde o início. E parece existir um plano, e não só birra, morbidez e irracionalidade nesse comportamento.

Está ficando cada vez mais evidente que não haverá vacina para todos. Talvez se descubra logo que o Brasil terá vacina para poucos.

E os brasileiros fazem o quê? Esperam uma vacina que talvez não chegue nunca. Quem assegura que haverá vacina? Qual vacina? A de Oxford? Em que quantidade? A vacina é até agora uma miragem.

No sábado, os conselhos de secretários estaduais e municipais de Saúde (Conass e Conasems) divulgaram nota em que defendem que o governo compre todas as vacinas acessíveis e com eficácia e segurança reconhecidas.

Mas só agora decidiram fazer o apelo? Bolsonaro boicota a vacinação, o ministro da Saúde se mostra incapaz, e os governadores não reagem.

Há um sentimento generalizado de que a pandemia parou o mundo e favoreceu os déspotas, com a imobilização das populações, com raras exceções.

Governantes que foram protegidos pela clausura provocada pela pandemia, como Sebastián Piñera, no Chile, podem enfrentar problemas sérios a partir do momento em que as pessoas se sentirem seguras para ir às ruas.

No caso brasileiro, não exagera quem imaginar o pior dos cenários, quando as pessoas se derem conta de que, de russos e ingleses a australianos e argentinos, todos estão sendo vacinados, enquanto nós somos enrolados.

A sensação hoje é de que haverá vacina para todos, menos para o Brasil. Estamos esperando Godot e a vacina.

Bolsonaro precisa torcer para que seu negacionismo funcione por mais um tempo e que o brasileiro continue resignado com o crime contra a saúde pública que já matou 176 mil pessoas e anestesiou o país.