A tragédia de Goiânia é o sonho da direita armamentista brasileira: importar matanças como as dos EUA. Por Donato

Atualizado em 20 de outubro de 2017 às 14:34
O Colégio Goyases, onde ocorreu a tragédia

 

O Colégio Goyases, em Goiânia, teve seu dia de escola Columbine na manhã de hoje.

Por volta das 11h50, um menino 13 anos abriu fogo na sala de aula contra seus colegas. Matou dois (um de 12 e outro de 13 anos) e há pelo menos outros cinco feridos.

Os primeiros relatos contam que adolescente sofria bullying por não usar desodorante. Filho de policiais – um major e uma sargento –, o garoto usou uma arma de um dos pais.

Ter ocorrido pouco tempo depois de outro episódio macabro de crianças queimadas vivas em uma creche, é suficiente para acender um sinal de alerta sobre a importação dessa insanidade.

Afinal de contas, o caso traz imediatamente à lembrança as matanças ocorridas em escolas americanas.

Assim como Columbine (no Colorado, EUA) parecia ser um local tranquilo, meio isolado, distante da loucura das cidades grandes, a escola Goyases também fica a cerca de sete quilômetros da região central de Goiânia, cercada por condomínios fechados de classe média. Todos ali deviam sentir segurança.

Porém, um sentimento que nada tem de novidade, que é absolutamente humano, encontrou um instrumento capaz de satisfazer sua sede de vingança.

O humilhado tinha em mãos uma arma. Sem ela, qual teria sido o desfecho? Impossível prever. Mas o certo é que o acesso a uma arma não da em boa coisa. Nunca.

O perigo que corremos um assistir outras tragédias como essa daqui para frente decorre de uma caminhada feita a passos largos por movimentos como MBL, o Direita São Paulo, o Movimento Viva Brasil e por candidatos como todos da família Bolsonaro que defendem com unhas e dentes uma população armada em nome da ‘liberdade’.

O bullying é um problema grave e recorrente em escolas, longe de estar em extinção, que causa depressão e traz consequências nefastas.

O autor dos disparos estava “livre” para resolver seus problemas, conforme a filosofia armamentista desse movimentos debilóides. A tragédia só não foi maior pois o garoto foi detido por professores e colegas enquanto recarregava.

Esses grupos que defendem a revogação do Estatuto do Desarmamento não estão nem aí para a tal ‘liberdade’. O que desejam com uma corrida armamentista é enriquecer ainda mais essa indústria.

Um segmento que, assim como o tráfico (conforme atestado por ninguém menos que ‘Marcinho VP’), também financia campanhas eleitorais e políticos mercenários.

Para as eleições de 2014, a indústria armamentista fez doações que totalizaram R$ 1,91 milhão (dados do Tribunal Superior Eleitoral). A Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) e a Taurus custearam tudo e foram bem sucedidas.

Todos os candidatos à Câmara dos Deputados (aquela de Eduardo Cunha) financiados pelas empresas foram eleitos. E dos candidatos aos cargos de deputado federal, deputado estadual, governadores e senadores, 84% foram eleitos.

Aos olhos e ouvidos do leigo, cai bem o discurso de poder andar armado. Citar a liberdade dos Estados Unidos então é tiro e queda.

O que é preciso informar aos incautos é que aqui, segundo levantamento do UNODC (Escritório da ONU contra Drogas e Crimes cujos dados do Brasil são fornecidos pelo Ministério da Saúde) matamos quatro vezes mais do que lá, mesmo com as restrições.

Imaginem se afrouxar.