A tragédia de Sandra, a filha que Pelé rejeitou e que morreu de câncer chamando pelo pai

Atualizado em 3 de dezembro de 2022 às 13:45
Pelé e a filha Sandra

Pelé, diz a Folha, não responde mais à quimioterapia que fazia desde setembro do ano passado, quando foi operado de um câncer de intestino. No início do ano, foram diagnosticadas metástases no intestino, no pulmão e no fígado.

Ele está sob cuidados paliativos para aliviar a dor e a falta de ar, por exemplo. Em nota, o Hospital Israelita Albert Einstein informou que ele teve uma infecção respiratória após ser internado para uma reavaliação da químio do tumor de colón identificado em setembro de 2021.

Pelé protagonizou uma das histórias mais deprimentes do futebol em matéria de abandono parental, também envolvendo uma doença terminal.

Em 1991, Sandra Regina Machado Arantes do Nascimento Felinto apareceu no programa “Aqui Agora” revelando que era filha do maior jogador de todos os tempos. Sua mãe era a empregada doméstica Anízia Machado.

Tentava contato com ele por telefone, chegando a conversar com a governanta de sua casa no Guarujá e com a tia de Pelé, que a orientou a “procurar seus direitos”.

Ela havia iniciado uma disputa judicial ainda na década de 90, quando obrigou o jogador a realizar um teste de DNA, confirmando a paternidade. Pelé recorreu, perdeu nas instâncias seguintes e ela pôde usar o sobrenome famoso.

Foi eleita duas vezes vereadora de Santos, perdendo apenas a última disputa para uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo. Morreu em 2006, aos 42 anos, vítima de uma falência múltipla de órgãos em decorrência de complicações de um câncer de mama.

Pelé não compareceu ao velório. Apenas enviou flores. Três anos depois, falou sobre ela com o comentarista Milton Neves, que acompanhou Pelé em uma viagem durante a inauguração de um hospital.

“O que houve é que fui um dia procurado e me contaram sobre uma suposta filha minha. Conversei normalmente sobre o assunto e ponderei que aquela era a terceira ou quarta pessoa a imaginar ou verificar se eu era pai de outras crianças. Nenhuma vingou. Aí, pedi fotos da Sandra e de cara senti que ela realmente se parecia comigo”, disse.

Lamentou que os interlocutores de Sandra o abordavam de maneira “não tão amistosa”. Preferiu não criar laços próximos, se restringindo para uma relação mais formal, que classificou como algo “longe de uma relação de pai para filha”.

Um desses interlocutores era o ex-marido dela, o pastor Ozeas Felinto, que levou os filhos ao hotel onde Milton e Pelé se hospedariam e pediu a ajuda do jornalista para promover o encontro com os netos. Pelé os recepcionou com presentes e fotos na recepção, numa jogada melancólica de marketing.

Sandra, filha de Pelé, no colo da mãe, a empregada doméstica Anízia Machado

Ozeas emitiu a seguinte nota na época:

“O que aconteceu nesse caso todo foi falta de comunicação. Primeiro eu quero te dizer que a Sandra nunca recebeu ajuda alguma do senhor Edson Arantes. Nem um copo de água. Essa situação que o senhor Milton Neves esteve com o Pelé, lá em Curitiba, eu me lembro de ter levado os meus filhos para apresentá-los ao avô. A Sandra já tinha falecido.

Mas enquanto a Sandra estava viva, quem cuidou da Sandra foi a mãe dela, trabalhando como doméstica, e o Pelé nunca deu ajuda. O Pelé começou a dar algum recurso agora para os meninos (filhos de Sandra) porque eu entrei com uma ação para que tivessem pelo menos as faculdades pagas por ele. Para que eles pudessem ter uma vida um pouco melhor. E o Pelé dá uma pensão, realmente, após uma ação que ganhamos na Justiça.

Mas eu nunca pedi nada quando a Sandra estava doente, e muito menos a Sandra. Nem o afetivo, muito menos financeiro. Eu desconheço isso. Toda ajuda foi dada após a morte da Sandra, e sempre para os meninos. Ele dá hoje cerca de R$ 3.500 para cada neto e paga a faculdade dos dois. Só isso.

Eu tentei, para que essa história tivesse um final feliz, aproximar os meninos do senhor Edson. Mas ele acha que dando essa pensão ele já resolve a situação. Me lembro também que quando a Sandra estava na UTI, eu estive na casa da irmã do Pelé (Lúcia). Ela ficou de falar com o Pelé, acredito que tenha falado, mas ele não foi.

Foi a única coisa que pedimos. Para o Pelé visitar a filha dele na UTI. Esse foi o único pedido”.