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A tragédia do PSDB segundo um ótimo historiador tucano. Por Paulo Nogueira

Historiador de verdade

Boris Fausto é um historiador de verdade.

Digo isso em oposição a tipos como o professor Villa, que se fantasia de historiador.

Em meus anos de Exame, contratamos Boris Fausto para dar uma série de aulas para a redação sobre a história econômica brasileira.

Foi um sucesso.

Com seu semblante de Humpty Dumpty, o personagem folclórico britânico de cara de ovo, Boris Fausto é alguém que merece ser ouvido quando se quer entender o Brasil.

Ele é simpatizante do PSDB, mas sabe separar sua simpatia pessoal dos fatos ao fazer suas análises.

Ele mostrou isso no Roda Viva, nesta segunda-feira.

Nem Augusto Nunes, com sua monomania antipetista, conseguiu estragar o programa.

Nunes, o Brad Pitt de Taquaritinga, tentou naturalmente manipular Boris Fausto, mas aquela era uma tarefa muito acima das suas possibilidades.

A parte mais interessante do programa foi quando Boris Fausto analisou o seu PSDB do coração.

Ele disse que o partido não formou lideranças à altura de Montoro e Covas, já mortos, e FHC, que ainda respira com vigor mas já não parece raciocinar.

Aécio, segundo ele, não conseguiu ser líder nacional até aqui, e é difícil que consiga agora, quando já vai chegando aos 60.

Boris Fausto não citou Serra nem como liderança passada e nem como liderança presente, e esta omissão provavelmente refletida foi um ponto alto de sua análise.

Ele disse também uma coisa que certamente não foi do agrado de Augusto Nunes.

O PSDB, afirmou Boris Fausto, deve se afastar completamente das manifestações pró-golpe da “extrema direita” para ser fiel a seu espírito “democrático”.

Não é, lamentavelmente, o que tem se visto.

FHC e Aécio promovem delirantemente um golpe que faria o Brasil retroceder ao estágio de republiqueta.

Igualam-se, assim, a tipos como Kim Kataguiri, do assim chamado Movimento Brasil Livre, e Marcello Reis, do Revoltados Online.

E, já que estamos no terreno da história, igualam-se também a golpistas históricos como Carlos Lacerda, o Corvo da UDN.

A UDN, para os jovens pouco familiarizados, desesperada por não conseguir o poder pelos votos, tramou o golpe de 1964.

A UDN queria que os militares varressem os líderes políticos rivais e entregassem, depois, o poder para ela.

Era como se a UDN quisesse ganhar uma batalha eleitoral pela via do WO – ausência de adversários.

Só que os militares tinham outros planos, e preferiram ficar eles mesmos no poder, em vez de entregá-lo à UDN.

O PSDB, meio século depois, é a reprodução da UDN. É, mais uma vez, a direita tentando chegar ao poder pelo tapetão, e não pela democracia dos votos.

Não há mais tanques para colocar nas ruas, e nem marines americanos na retaguarda, mas hoje existem outras maneiras de derrubar alguém.

A UDN matou a democracia em 1964, e merecidamente depois pagou o preço disso. Lacerda acabou cassado, depois de dizer que Castello Branco era mais feio por dentro do que por fora, e morreu de desgosto.

O PSDB é, hoje, uma ameaça à democracia.

Não seria, se seus líderes ouvissem Boris Fausto.

Mas não ouvem, e é.

Paulo Nogueira

O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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