A tubaína, fake news e sites de checagem que precisam ser checados: DCM não errou

Atualizado em 22 de maio de 2020 às 19:47
Adriano Diogo, que foi presidente da Comissão da Verdade em São Paulo

O texto sobre a tubaína de Bolsonaro, assinado pelo redator Tchelo, teve muita repercussão na rede. Em um dia, 39 mil pessoas deixaram o like na página do DCM.

A reportagem foi  também compartilhada milhares de vezes.

No texto, Tchelo conta que “tubaína” é uma gíria usada em quartéis para a técnica de tortura por afogamento, em que se coloca um funil na garganta do torturado e despeja-se água sem parar.

O texto foi motivado pela live em que Bolsonaro disse: “quem for de direita toma cloroquina, de esquerda toma tubaína”.

O site de checagem de notícia Boatos considerou a interpretação da expressão usada por Bolsonaro fake news.

Segundo informa em sua página, Boatos analisou a notícia por sugestão dos leitores. A conclusão: “Não há qualquer comprovação de que tubaína seja uma gíria relacionada à tortura por afogamento tampouco é possível dizer que Bolsonaro usou uma mensagem subliminar para o texto.”

A fonte de boatos.org é o banco de dados do Projeto Tortura Nunca mais, que não faz referência à expressão tubaína como modalidade de suplício aplicado nos porões da ditadura.

Faltou ao site de checagem de notícias conversar com quem foi torturado, como ex-deputado Adriano Diogo, que foi presidente da Comissão da Verdade em São Paulo.

“Não há o termo específico para esse tipo de tortura, tubaína pode ser um deles, como dar um Dreher, levar para a ponta da praia, dar água, matar a sede. Os torturadores usavam metáforas para dizer o que pretendiam fazer”, disse.

“Quem foi torturado e viu a fala de Bolsonaro, com o sorriso cínico dele ao perguntar ao interlocutor ‘entendeu?’, percebe na hora a relação com a tortura”, acrescentou.

“Afogamento era chamado pelos caras por vários nomes. Submarino era um deles. Lembro de um depoimento que um escrivão, se não me falha a memória, falou algo como dar uma Tubaína como sinônimo de afogamento. Acho que não era coisa para nós presos, mas gíria entre eles”, disse ainda.

O escritor e redator Renzo Moura também recebeu a informação que associava a fala de Bolsonaro à tortura.

“Entendo a relutância de alguns amigos em aceitarem como verdadeira essa informação. Admitir que seja verdade implica em admitir que o atual presidente é um psicopata. Mas convém lembrar que certos grupos  – torturadores, milicianos e traficantes – têm um idioma cifrado”, afirmou.

Bolsonaro, como se sabe, é defensor dos torturadores — “sou favorável à tortura, você sabe disso”, falou em entrevista em 1999. Também já se se manifestou a favor da milícias, quando era deputado — sem levar em consideração as homenagens que o filho Flavio prestou a milicianos.

Uma semana antes do segundo turno da eleição, Bolsonaro disse a apoiadores concentrados na avenida Paulista disse que mandaria “a patralhada” para a “Ponta da Praia”

“Vocês não terão mais vez em nossa pátria”, disse.

Bolsonaro usa linguagem cifrada para explanar o ódio por quem pensa de maneira diferente. Ponta da praia ou tubaína são expressões ditas ao acaso.

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Amanhã, às 17 horas, o DCM entrevista o ex-presidente da Comissão da Verdade em São Paulo, Adriano Diogo.