A Vacina Chegou Para Mim. Por Miguel Paiva

Atualizado em 29 de março de 2021 às 20:08
Profissional de saúde prepara dose da vacina contra a Covid-19 da Pfizer/BioNTech em Ashkelon, sul de Israel, no dia 20 de dezembro. — Foto: Gil Cohen-Magen/AFP

Originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA 

Por Miguel Paiva

Vacinei hoje, como costumamos dizer eliminando o pronome com a mesma vontade de eliminar o vírus. Foi legal. Viva o SUS. Estão lá ajudando, anotando, vacinando com disposição, simpatia e eficiência, como sempre foi o SUS. Daqui a pouco, depois da segunda dose, vou estar mais preparado para voltar às ruas como já começam a articular alguns. Somos a frente de batalha agora enquanto aguardamos os mais jovens. Mas alguns não querem isso. A deputada Janaína Paschoal queria fazer o contrário, colocar os idosos na fila para o trem de Auschwitz. Somos idosos, mas somos guerreiros e aqui ficaremos a postos para a luta. Sempre.

Não me acho privilegiado em relação aos que ainda não foram vacinados. Só quando o efeito coletivo da vacinação começar a aparecer estaremos todos mais protegidos. Por enquanto sou só um elemento nesta engrenagem de passagem de tempo. Que passe rápido e que possamos estar prontos para exigir a volta a democracia nas ruas, com responsabilidade, mas com muita vontade. É disso que eles têm medo. A vacina é nossa bandeira de luta inicial.

Os americanos com seu poder econômico e depois da saída do Trump, já conseguiu virar a curva. Os efeitos estão aparecendo. Aqui no Brasil ainda estamos na curva ascendente, mas se continuarmos, mesmo que mais lentos, daqui a pouco vamos virar também. Claro que as festas atrapalham, o pessoal nas praias também, mas nada é tão devastador quanto a população que é obrigada a ir trabalhar usando o transporte público. Os patrões deveriam colocar suas viaturas que tanto brilham e ostentam nas carreatas para levar seus empregados ao trabalho. Os patrões dirigindo. Seria mais justo do que protestar sobre 4 rodas para que seus empregados, quase todos pobres, quase todos pretos, continuem a encher o tanque das viaturas e o bolso dos patrões.

Mas que a vacine chegue logo para essa gente também para que os mais pobres parem de morrer. Os negacionistas que sempre se colocaram a favor do tratamento precoce com a Cloroquina agora vão para Miami, ou para Belo Horizonte e se vacinam antes do tempo. Alguns furam a fila, outros querem se vacinar sem máscara. São os bandidos disfarçados de inocentes que não enganam mais ninguém. Mas que a vacine chegue para eles também, no seu tempo, para que todos protegidos, a balança se equilibre.

Meus heróis agora não vão mais morrer de overdose, nem de Covid. Vão se vacinar e continuar escrevendo a história desse país usando a verdade como antígeno. Que assim seja. Aguardo a segunda dose e repito. Não dói e ninguém vira jacaré. Voltamos a ser seres humanos, isso sim.