A velha direita e o fascismo têm muitos candidatos e não têm nenhum. Por Moisés Mendes

Atualizado em 4 de agosto de 2025 às 9:24
Jair Bolsonaro acompanha ao aeroporto de Brasília Michelle Bolsonaro
Michelle e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

As muitas direitas têm, em tese, uma dúzia de candidatos para enfrentar Lula no ano que vem. Mas o candidato mais forte, segundo as pesquisas, é uma candidata que não irá concorrer. Michelle Bolsonaro não correrá o risco de disputar a eleição.

Primeiro, que se esclareça que Tarcísio, Zema, Ratinho, Caiado, Eduardo e Flávio não correspondem às expectativas da direita e da extrema-direita. Ou são fracos ou são vacilantes.

E que, entre todos eles, o primeiro é o mais inconfiável, porque teria que se desligar do governo para concorrer e porque não tem o aval do bolsonarismo. Medroso, fugiu até do ato de domingo na Paulista, no trio elétrico desencapado de Malafaia.

Com Tarcísio de fora, Michelle seria o nome mais forte de todos os outros. Mas Michelle não irá até o fim, por um conjunto de motivos que podem ser bem resumidos:

1. Com Bolsonaro preso, é impossível pensar que Michelle sairia em campanha pelo Brasil. Bolsonaro não aguentaria a situação que seria criada, com a mulher sendo protagonista e ele encarcerado. A situação não se altera muito se ele estiver em prisão domiciliar. Michelle não existe sem a dependência política de Bolsonaro.

2. Michelle tem certeza de que se elege senadora por Brasília como a mais votada nas disputas pelas duas vagas. Chegar ao Senado é uma distinção que os políticos perseguem, mesmo depois de passarem por altos cargos da República. E o Senado será o espaço mais importante da luta política a partir de 2027.

3. Bolsonaro sabe, por experiência própria, que, se fosse eleita para a Presidência, Michelle não conseguiria governar. Seria governada por Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab, por todos os escalões do centrão e pelas estruturas da extrema-direita na Câmara e no Senado. Bolsonaro deve ter pesadelos ao imaginar a mulher no poder.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Foto: Reprodução

Os outros motivos são desdobramentos desses três. Michelle não aguentaria o tranco de uma campanha, menos pelas armadilhas que seriam criadas pelas esquerdas e muito mais pelas sabotagens e disputas internas das direitas e do fascismo.

O resumo hoje é esse: os pré-candidatos que querem mesmo disputar a eleição (Caiado, Zema, Eduardo e Ratinho, mais Ciro e Eduardo Leite, que nem têm sido incluídos nas pesquisas) não têm condições de enfrentar Lula. E Tarcísio vai amarelar, e Michelle fará a escolha pelo que é mais confortável e previsível.

Folha, Globo e Estadão se esforçam, mas as várias velhas direitas não têm candidato, e a extrema-direita sem Bolsonaro é uma incógnita.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/