A velha Globo na manipulação de sempre: a notícia são os diálogos criminosos, não os russos de Araraquara. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 24 de julho de 2019 às 19:44
Moro, quando recebeu prêmio da Globo

O jornalismo chapa branca da Globo está cobrindo o caso dos picaretas de Araraquara presos pela Polícia Federal como se fosse um grande acontecimento mundial.

Chega a ser cômico.

Nenhum comentarista fala dos diálogos vazados que revelam a parcialidade do juiz que condenou o ex-presidente da república e impediu a sua eleição em 2018.

Isso sim é grave, gravíssimo.

Em vez disso, a emissora desloca um batalhão de profissionais para ficar na porta da Justiça Federal e da Polícia Federal em Brasília à espera de um vazamento.

Também mantém linha direta com o ministro da Justiça, Sergio Moro, que tem acompanhado o trabalho da PF como fazia no tempo em que era juiz.

Ou seja, está comandando toda operação.

Há 22 anos, a Globo obteve em circunstâncias obscuras uma fita com a gravação de policiais torturando e matando pessoas perto de uma boca de fumo, em Diadema.

Era o caso da favela Naval.

Na época, se falou que a gravação havia sido feita sob patrocínio de traficantes. Seria uma reposta à extorsão de dinheiro por parte dos policiais.

O cinegrafista Francisco Romeu Vanni, o Pica-Pau, passou alguns dias escondido em um sobrado na entrada da favela e gravou cenas fortes, inclusive a de um assassinato.

A Globo teve acesso à fita e a divulgou, mediante uma controversa aquisição dos direitos autorais.

Na época, Pica-Pau, acompanhado de um advogado, me procurou na revista Veja para denunciar que a Globo estava usando as imagens indevidamente.

Negou que tivesse sido contratado pelos traficantes. Disse que era um trabalho profissional e que queria receber o valor devido.

Veja não publicou a denúncia do Pica-Pau, por entender que o importante, naquele caso, não era a forma como a Globo teve acesso às imagens, mas o que o conteúdo revelava: a brutalidade policial.

Desta vez, sob a liderança da Globo, o que se faz é o inverso: o importante no caso da Vaza Jato é o que os diálogos revelam, não a fonte do vazamento.

Foi hackeamento?

Talvez.

Mas e daí?

Que os hackers sejam punidos. É crime a violação do sigilo das comunicações.

Isso é uma coisa.

A outra é o conteúdo das mensagens, que revela a brutalidade de agentes de Estado na condução da Lava Jato.

Quando a Globo divulgou imagens que mostravam policiais torturando inocentes, um discurso presente era que aquela revelação ajudava no fortalecimento da PM, para que tivesse o respeito da sociedade, sem criminosos.

Agora ocorre a mesma coisa.

Quando os diálogos de interesse público se tornam conhecidos, a imprensa ajuda na limpeza de instituições importantes como o Ministério Público Federal e o Judiciário.

Ajuda na preservação do estado democrático de direito, em que a imparcialidade no julgamentos é característica fundamental.

A confusão que a Globo e seus satélites promovem, com o foco na prisão dos hackers, é um desserviço à democracia.

Não é surpreendente, tendo em vista a aliança que a mídia conservadora, Judiciário e MP costuraram há bastante tempo para tirar um projeto popular do governo, mas é lamentável, e deve ser denunciada.