
A defesa de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, contestou a investigação que embasou a Operação Compliance Zero, da Polícia Federal, que levou à sua prisão e à liquidação do Master. Os advogados afirmam que o caso foi construído sobre uma “interpretação equivocada” das operações de crédito adquiridas de terceiros e que documentos do Banco Central (BC) e do Banco de Brasília (BRB) comprovam que não houve fraude nem prejuízo ao sistema financeiro. Com informações do portal O Bastidor.
Segundo a defesa, as carteiras repassadas ao BRB foram compradas pelo Master de originadores como a empresa Tirreno, em um modelo de mercado no qual a documentação completa pode ser entregue em até 180 dias. Como as Cédulas de Crédito Bancário já tinham garantias registradas na B3, o Master pôde cedê-las ao BRB com previsão de substituição ou recompra em caso de irregularidades – mecanismo que, afirmam, foi integralmente acionado.
Em 27 de maio de 2025, o Master notificou o BRB de que ainda havia pendências documentais dos originadores e propôs substituição por carteiras próprias. O banco público, segundo a defesa, aceitou as trocas previstas em contrato. Essa dinâmica foi confirmada pelo BRB em ofício enviado ao BC em 8 de julho de 2025: das carteiras consideradas problemáticas, R$ 12,77 bilhões, R$ 10,6 bilhões (85,5%) já tinham sido substituídos por ativos originados pelo próprio Master ou empresas do conglomerado. O restante estava em fase final de liquidação.
O BRB também informou ter recebido R$ 22,3 bilhões em garantias do Master — incluindo direitos creditórios, fundos estruturados e valores em conta escrow — e disse que todo o processo ocorreu com acompanhamento do BC. Em nota oficial de 21 de novembro de 2025, o banco reiterou que mais de R$ 10 bilhões estavam liquidados ou substituídos e que o saldo remanescente não configurava exposição ao Master.
Outro ponto usado pela defesa é um ofício do Banco Central ao Ministério Público Federal, no qual o órgão afirma que “historicamente não foram identificados indícios de irregularidades” nas operações originadas diretamente pelo Master e que, como as carteiras adquiridas de terceiros já haviam sido substituídas, não havia necessidade de novos exames. O BC também registrou a recompra de R$ 1,7 bilhão em carteiras da empresa The Pay, feita pelo Master em fevereiro de 2025, após reclamações de consumidores.

A defesa destaca ainda que o BC jamais abriu processo administrativo sancionador contra Vorcaro. Uma certidão emitida em 21 de novembro de 2025 confirma que “não há processo administrativo sancionador em desfavor de Daniel Bueno Vorcaro”.
Os advogados afirmam que a operação policial foi deflagrada justamente quando o Master protocolava, no BC, a venda do banco a um grupo financeiro — reunião prevista para 17 de novembro de 2025 com o diretor de fiscalização, Ailton de Aquino Santos, e chefes de supervisão. Para eles, a liquidação extrajudicial interrompeu uma solução de mercado que evitaria perdas e não impediria a continuidade das investigações.
O único documento que sustenta a narrativa de fraude, o Relato Sucinto de Ocorrências do BC, cita inconsistências ligadas à Tirreno, uma empresa recém-criada. A defesa afirma que o relatório ignora que todas as carteiras desse originador já estavam substituídas ou recompadas com ciência de BRB e BC, e que as inconsistências apontadas dizem respeito exclusivamente a terceiros — Tirreno, The Pay e correspondentes da Cartos.
Segundo a defesa, o BC reconhece que as operações originadas pelo Master são regulares e que não há, nos documentos oficiais, qualquer indicação de dolo, fraude ou intenção de fraude atribuída a Vorcaro. Eles afirmam que “não houve fraude de R$ 12 bilhões”, que nenhuma operação irregular foi transferida de forma definitiva ao BRB, que todas foram substituídas conforme contrato e que a operação policial se baseou em premissas superadas pela própria documentação de BRB e Banco Central.