A doce vingança de uma fotógrafa

Atualizado em 26 de abril de 2013 às 0:36

Haley Morris-Cafiero encontrou uma maneira original de expor as pessoas que a ridicularizavam em público.

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Eu estava numa viagem com estudantes em Barcelona, ​​no verão de 2011, andando pelas Ramblas, quando notei dois caras tirando sarro de mim. Eu podia vê-los no reflexo de um edifício espelhado, fazendo gestos com as mãos para sugerir como eu era muito maior do que a menina magra de pé ao meu lado, sua pequena cintura acentuada por seu top e pelo shorts apertado. Eles pintaram a figura dela no ar como uma ampulheta. Em seguida, pintaram as minhas formas como as curvas convexas de uma bola. Os caras estavam dizendo algo, também, mas só havia uma palavra que eu podia entender: gorda. Mulher gorda.

Eu tenho ouvido comentários como este por toda a minha vida. Mas não fico chateada quando isso acontece.

Pego minha câmera e tiro uma foto.

Durante cerca de um ano, eu tirei fotos de reações de estranhos a mim em público para uma série que chamei “Wait Watchers” (um trocadilho com “Weight Watchers”, “Vigilantes do Peso”). Eu estava interessada em captar algo que eu já sabia: se as mulheres grandes das obras de arte andassem por aí hoje, elas seriam desprezadas e ridicularizadas.

Então, encontrei uma faixa de pedestres lotada, um pouco além das ramblas, usei minha câmera para definir a exposição e o foco de onde eu iria ficar, e a entreguei para meu assistente. Comprei um sorvete e comecei a tomá-lo. Aprendi que eu conseguia reações melhores se estivesse “fazendo” alguma coisa.

Na minha visão periférica, eu vi uma adolescente esperando o sinal para atravessar a rua. Enquanto estava lá, tomando meu sorvete, ouvi um “SLAP, SLAP, SLAP” repetitivo de uma mão sobre a pele. Eu sinalizei para meu assistente clicar. Foi só quando voltei para casa em Memphis e revelei o filme que percebi que o som era o da garota batendo em sua barriga enquanto me observava comendo. Ela fez isso várias vezes. Eu tenho cinco quadros dela com várias expressões faciais. Chamei a imagem resultante de “Gelato”.

Minha luta com o meu corpo começou depois que eu terminei o ensino médio. Joguei futebol a minha vida inteira, às vezes em três equipes ao mesmo tempo. Eu nunca pensei sobre “o exercício.” Eu apenas corria e chutava a bola dura. Quando comecei a faculdade, não havia mais o futebol e o meu peso passou de tamanho 40 para 48 em semanas.

Acabei sendo diagnosticada com hipotireoidismo. Apesar de eu passar por fases de restrição alimentar, percebi que não deveria me punir por algo que não posso controlar. A autocrítica é um desperdício de tempo. Eu fico pior com toneladas de maquiagem e produtos em meu cabelo. Eu sou feliz quando não estou estressada – então eu não estresso.

Isso não significa que o mundo esteja confortável com a minha aparência. Mesmo sendo uma professora universitária, que trabalha 12 horas por dia e come de maneira saudável, apesar de não ter nenhuma das doenças relacionadas na mídia como ligadas à obesidade, eu sou contra os estereótipos. Estou constantemente lidando com críticas de estranhos de que sou preguiçosa e tenho raciocínio lento, ou de que eu sou lerda e excessivamente emocional.

Eu suspeito que, se confrontar essas pessoas de mente estreita, as minhas palavras não terão nenhum efeito. A câmera me deu a minha voz.

A idéia da série “Wait Watchers” veio um dia quando eu estava fotografando em Times Square. Estava fazendo fotos em espaços públicos onde eu fico mais desconfortável, como piscinas e restaurantes (eu sempre me sinto como se não fosse “permitido” pedir comidas com muitas calorias).

Ao ver o negativo, notei a imagem de um homem atrás de mim. Lá estava ele, fotografado por uma mulher que parecia ser muito bonita, no meio do assalto sensorial que é a Times Square. Mas no momento em que o obturador é disparado, ele está rindo de mim. Ele claramente não me aprova. Esse tipo de coisa tinha acontecido muitas vezes. Até aquele momento, eu nunca pensei que poderia capturá-lo em filme.

Eu embarquei em um experimento social: documentar como o mundo reagia a mim. Para criar minhas fotos, eu busco composições interessantes em áreas públicas. Meu objetivo é capturar uma ampla gama de grupos sociais, por isso viajo tanto quanto eu possa. Estive na Espanha, Peru, Chicago, Nova York e Memphis. Minhas configurações ideais têm composições lineares ou referências de gênero na paisagem. Eu configurei minha câmera para ficar em um tripé ou um banco, ou levo um assistente para tirar várias fotografias por minuto. Eu, então, peneiro as imagens para ver se capturei alguma reação.

Eu não sei o que os estrangeiros pensam quando olham para mim. Mas há um momento Henri Cartier-Bresson em que minha ação alinha-se com a composição, resultando num elemento de crítica ou questionamento. Mesmo que eles estejam diante de uma câmera, eles sentem que têm o anonimato porque estão atrás de mim.

E eu não fico triste quando olho para as imagens. Sinto que estou invertendo o olhar de volta para eles, para revelar o seu olhar. Eu estou de bem com quem eu sou e não preciso da aprovação de ninguém para viver a minha vida. Eu só fico irritada quando ouço alguém comentar sobre o meu peso e a imagem não reflete a crítica. Isso é frustrante: quando eu não tive a chance de tirar a foto.

Mas, desde que o projeto começou a receber a atenção da mídia, tenho recebido centenas de e-mails de pessoas me agradecendo. Há tantas pessoas no mundo que sentem que têm o direito – não, a obrigação – de criticar alguém por sua aparência. Eu recebi um email de uma menina de 15 anos, na Bélgica, que disse que minhas imagens fizeram com que ela se “sentisse melhor e não se preocupasse com o que os outros pensavam de sua vida”. Isso me deixou orgulhosa. Quanto ao que as imagens significam, os espectadores podem interpretá-las como bem entenderem. Eu só estou tentando começar uma conversa.

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