A violência é a última cartada de Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 6 de setembro de 2022 às 22:45
“Atiro para matar”, diz Bolsonaro sobre reação a possível prisã
Presidente Jair Bolsonaro fazendo gesto de arma de fogo
Foto: Reprodução

Por Moisés Mendes

Nenhuma estratégia eleitoral, com algum elemento de racionalidade, salva Bolsonaro nas atuais circunstâncias, considerando-se o que se anuncia para o primeiro turno e o desfecho previsível para o segundo.

A única chance para o sujeito é investir no que sua base tem de irracional, ou então acreditar no imponderável, que seria algo de alto impacto e desconcertante, como foi a facada de 2018 em Juiz de Fora.

Não há como imaginar que um episódio minimamente semelhante aconteça de novo. Mas o irracional e o imponderável estarão juntos nos atos do 7 de Setembro. Andarão de mãos dadas.

Não se trata de esperar mais do mesmo em termos de agressão e virulência de Bolsonaro, mas de algo fomentado por ele que venha do seu público.

Bolsonaro pode atacar de novo o ministro Alexandre de Moraes. Pode anunciar o assassinato de inimigos na ponta da praia.

Os filhos do sujeito podem usar megafones e convocar milicianos e atiradores para que se unam ao pai com suas armas.

Bolsonaro pode dizer aos tios do zap que levem adiante o plano do golpe, porque os militares estarão dando cobertura.

Mas nada disso irá acrescentar novidade ao que já vem sendo dito e repetido. Bolsonaro é repetitivo.

O que o Brasil teme agora é o último estágio da cartada pelo caos, depois que até a Globo, com a série sobre a Constituição, pisoteou e triturou o blefe do golpe.

O 7 de Setembro pode ter o que ainda não tivemos. Um incidente que acione faíscas em ações pontuais que espalhem o terror nas capitais.

E pode acontecer também de o 7 de Setembro ser grandioso para a extrema direita, mas não apresentar os novos elementos que conduzam à esculhambação geral.

Mas terá sido, se for gigantesco, intenso e barulhento, o preparativo para o que virá mais adiante.

Na próxima sexta-feira teremos pesquisa do Datafolha, que sempre provoca mais impacto e orienta condutas.

Se o Datafolha confirmar o que o Ipec informou essa semana, que Bolsonaro não consegue reagir e que Lula se mantém no mesmo lugar, o impossível deixará de existir.

É improvável que, em meio ao desalento com as pesquisas, à potencialização dos ódios e das mentiras e à radicalização dos grupos de tios do zap, algo mais grave não ocorra.

Esculhambar com o ambiente político, e com violência, para que a eleição não aconteça ou seja deslegitimada, é a obsessão na cabeça do sujeito e do seu entorno.

O que virá depois do caos é outra história. Bolsonaro quer, antes, a degradação total do cenário político, para tentar escapar da eleição, não se sabe para onde.

Publicado originalmente no blog do autor

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Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/