Por Luis Felipe Miguel
Gostamos de acreditar que vivemos num mundo político relativamente pacificado, em que imperam as “regras do jogo” e a violência aberta (em oposição à violência sistêmica ou estrutural) está banida.
No entanto, no frigir dos ovos, num combate direto, as armas da razão nunca se impõem diante da razão das armas.
Bourdieu citava o caso do soldado romano que, para vencer um debate sobre matemática, cortou a cabeça de seu interlocutor. Tratou-se, diz o sociólogo, de um “erro de categoria”: não se define uma verdade matemática matando quem discorda.
Mas na política é diferente. A força bruta serve muito bem ao propósito de alcançar ou manter o poder.
Estamos vendo isso em ação no Brasil. A violência é uma das armas de Bolsonaro.
Ela se manifesta no discurso de ódio, que passa das palavras aos atos, como no assassinato de Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu.
Na estratégia de ameaça permanente, da qual a presepada com o corpo diplomático em Brasília foi exemplo eloquente.
Na exibição da brutalidade policial como política de segurança, como na recente chacina no Rio de Janeiro.
E as nossas armas, quais são?
Não corroboro, é óbvio, com as fantasias de quem crê em memes de fascistas apanhando – “é assim que se trata fascista” – ou segue teóricos da revolução formados em academias de jiu-jítsu.
Isso é a fuga para um mundo de fantasia. Se a luta for transferida para esse terreno, nós sifu, como se dizia antanho.
É na base da extrema-direita direita ou em seus arredores que estão militares, policiais e os cidadãos de bem dos clubes de tiro.
O que precisamos é recusar a intimidação, ampliando a mobilização, pressionando as instituições para que, enquanto a frágil casca de legalidade ainda não foi rompida de vez, coíbam a escalada da violência – os atos e as ameaças. E para que fique claro que uma intentona golpista não será um passeio, que a sociedade brasileira não está disposta a se curvar.
Essa é a força que podemos ter.