A virada de Haddad começou, mas para se completar depende da ação de cada democrata. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 25 de outubro de 2018 às 21:36
Haddad em evento no Rio de Janeiro

A pesquisa Datafolha divulgada há pouco mostra a possibilidade de virada de Fernando Haddad. Ele tem 44 por centro dos votos válidos contra 56 de Jair Bolsonaro. Na primeira pesquisa do primeiro turno, há uma semana, Haddad tinha 41 e Bolsonaro, 59.

Segundo o instituto, Haddad cresceu em todas as regiões, cresceu também entre os evangélicos e nos eleitores com ensino médio.

Entre os eleitores de 16 a 24 anos, Haddad perdia por 9 pontos de diferença há apenas uma semana, acordo com o mesmo instituto. Agora vence Bolsonaro por 45 a 42.

Entre os eleitores que ganham acima de 10 salários mínimos, Bolsonaro caiu 6 pontos e Fernando Haddad subiu 10.

É um movimento significativo, já que o capitão da reserva sempre teve vantagem maior entre os eleitores de alta renda.

Uma explicação para esse movimento é o discurso de Bolsonaro dirigido a seus apoiadores reunidos domingo na Avenida Paulista, quando disse que seus opositores serão presos ou banidos do Brasil.

Também deve ter provocado impacto nessa faixa de renda a divulgação do discurso em que o deputado federal Eduardo Bolsonaro desafia a autoridade do Supremo Tribunal Federal e diz que, para fechar a corte, é necessário apenas enviar um cabo e um soldado.

“Não precisa nem de Jeep”, afirmou

No entanto, de acordo com o cientista políticos Alberto Carlos Almeida, a alta renda não deve ser alvo prioritário dos apoiadores de Haddad.

Um dos mais respeitados especialistas em pesquisa do Brasil, Almeida diz, por meio do Twitter, que a virada depende da conquista dos votos da classe de menor renda, muito mais numerosos, e também dos evangélicos.

“Quem quiser que o Haddad vire tem que sair da frente do computador, parar de olhar para o celular e ir virar votos pessoalmente”, afirma.

“A meta deveria ser virar 20 votos de Bolsonaro para Haddad, preferencialmente classe baixa e evangélicos”, acrescenta.

Ele indica alguns caminhos:

“É necessário ir para as ruas. Esqueçam as redes sociais. É necessário sair da bolha. Esqueçam pessoas de superior completo. Busquem quem ganha menos de quatro salários mínimos e argumente com calma. Dá para virar”.

Alberto Almeida diz mais:

“Amanhã é dia de faltar ao trabalho e não olhar demais para o celular. É preciso abordar as pessoas na rua, em frente às igrejas evangélicas, em terminais de ônibus, na saída de supermercados. Ação!”.

Alberto Carlos de Almeida é autor do best selar “Cabeça de Brasileiro” , livro que procura definir o perfil da população.

Para ele, o país é conservador e preconceituoso. Mas não é incompreensível.  “É complexo”, define.

Almeida tem um número relativamente grande de seguidores na rede, mas ele pede que ninguém curta suas postagens amanhã.

“Todo mundo nas ruas, nos cafés, bares, igrejas, convertendo votos de Bolsonaro para Haddad”, orienta.

Alberto Carlos Almeida, cientista político. Foto: Reprodução/Twitter

A virada se tornaria mais próxima se a Globo não tivesse cancelado o debate entre Bolsonaro e Haddad. Com a decisão, a emissora se submeteu à vontade do candidato do PSL.

Ele definiu a programação da TV.

Em 1998, quando César Maia, candidato a governador do Rio de Janeiro, decidiu não ir ao debate, a Globo manteve a programação, com a presença de Garotinho, que na época não era perseguido pela rede.

Garotinho foi sabatinado e, três dias depois, venceu a eleição com folga.

Por exemplo, na hipótese improvável de um candidato se recusar a debater nos Estados Unidos, democracia consolidada, a emissora cancelaria o encontro?

Difícil.

É uma hipótese improvável porque, em países civilizados, a recusa de um candidato de participar de debate o inviabilizaria na eleição.

O debate é a melhor oportunidade do eleitor avaliar aquele que disputa o cargo mais importante de uma nação.

Os analistas bolsonalistas faltam com a verdade quando dizem que Lula, em 2006, não participou dos debates.

Lula debateu duas vezes com Geraldo Alckmin, no turno final da eleição.

A coligação de Haddad tentou no TSE obrigar a Globo a manter o debate, com a sabatina no lugar do confronto direto entre os candidatos.

Mas a corte rejeitou o pedido, com o argumento de que o princípio da liberdade de imprensa asseguraria à emissora decidir se realiza ou não a sabatina.

A decisão do TSE confirma que esta é uma campanha de Davi contra Golias. Mas, como todos sabem, Davi venceu, com um único e preciso disparo. Ele nunca deixou de acreditar.