A volta do Japonês da Federal, agora de tornozeleira eletrônica, resume o Brasil do golpe. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de setembro de 2016 às 7:31
O Japonês da Federal escolta o pecuarista Bumlai
O Japonês da Federal escolta o pecuarista Bumlai, ambos de tornozeleira eletrônica

 

Newton Ishii, o infame ‘Japonês da Federal’, reapareceu em grande estilo. Na segunda, dia 5, foi visto estava escoltando em Curitiba o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro.

No dia seguinte, caminhava junto ao pecuarista Joé Carlos Bumlai. Tudo para as câmeras.

Ambos, Ishii e Bumlai, têm uma tornozeleira eletrônica. Ele estava sumido porque fora afastado de suas funções, condenado a 4 anos e dois meses por facilitação de contrabando na fronteira de Foz do Iguaçu.

O agente da PF ganhou notoriedade se deixando fotografar a cada investida gloriosa da Lava Jato no tempo em que isso era manchete. Sempre com os indefectíveis Ray Ban pretos, foi homenageado com marchinha de Carnaval e máscara para os foliões. No auge, em fevereiro, deu autógrafos no Congresso para uma cambada de políticos.

Nós enxergamos a realidade através de símbolos — e não há símbolo mais eloquente da nossa Justiça, do Brasil do golpe, do que um condenado “oficial” levando um réu pelo braço.

É inacreditável que o chefe da operação não enxergue nisso um embaraço, um recado para a sociedade de que está tudo combinado numa linda fraude.

É, também, sintomático do tempo que vivemos. Se havia algum decoro, algum tentativa de manter as aparências, ele foi para uma salinha nos fundos se ajoelhar no milho e nunca mais voltou.

Boa parte da cambada que votaria pelo impeachment tirou selfies com Ishii. Jair Bolsonaro chamou inclusive seu filho, Eduardo, para participar da palhaçada.

Ishii foi convidado a se filiar a partidos e concorrer às eleições municipais. Agradecido, falava que “ia pensar”. Os movimentos de extrema direita e a imprensa o canonizaram.

Num dos ridículos perfis sobre ele, em que seu currículo na ilegalidade era omitido (podemos tirar se achar melhor), filosofou sobre a fama: “Ela tem dois lados. Tem o lado bom, do reconhecimento. O lado das crianças e adolescentes é muito legal”, disse.

“Estamos dando um bom exemplo. Dizem que estão rezando, torcendo para que tudo acabe bem. Isso fortalece o trabalho e nos dá força para continuar. Diminuiu a cultura do país de achar que é melhor levar vantagem em tudo.”

É uma farsa que outros farsantes fingiram desconhecer e agora está aí, à luz do dia.

O Japonês da Federal é Michel Temer por outros meios. Se Temer anda por aí fantasiado de presidente legítimo, montado no mantra de que as instituições estão funcionando, por que o Japonês da Federal não poderia sair nas fotos com sua tornozeleira?