Talvez se Damares transasse ela não ficaria tentando impedir os outros de transar. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 26 de janeiro de 2020 às 9:17
Damares e Weintraub, feitos um para o outro

Fazendo jus ao século 21 – quando já temos nanotecnologia, energia nuclear e ônibus espacial – basicamente todos os governos ao redor do mundo investem na educação sexual como prevenção à gravidez na adolescência e DST’s.

Nada mais óbvio: num tempo em que a camisinha já foi inventada, quem precisa do voto de castidade pra se proteger?

O Brasil de Damares, claro.

A ministra já se apressou em fazer a primeira tolice de 2020: desprezando a eficiência das campanhas de prevenção através do preservativo, ela preferiu investir na campanha “escolhi esperar”, que procura – inutilmente, ressalve-se – estimular os jovens a não transarem.

Essa campanha, aliás, nasceu nas igrejas protestantes e jamais funcionou nem mesmo entre os evangélicos, que só escolhem esperar por um momento oportuno pra fazerem sexo antes do casamento e longe dos olhos do pastor.

Pudera: quem em sã consciência escolheria esperar? Haja fé.

O último que tentou foi George Bush em 2007, que fez com que as taxas de gravidez na adolescência e DSTs – ambas em declínio havia mais de uma década nos Estados Unidos – disparassem vertiginosamente depois da ideia genial de tentar convencer as pessoas a não transarem.

Essa ideia nunca deu certo em lugar nenhum – e nunca dará – por um motivo simples: salvo os assexuados, todo mundo adora sexo.

Damares, por exemplo, gosta tanto que não fala em outra coisa.

Tentar convencer as pessoas a abrirem mão disso, sejam quais forem os argumentos, é gastar o próprio latim.

E o pior é que, mesmo sabendo disso – e na contramão do mundo, pra variar – o conservadorismo brasileiro prefere insistir na palhaçada do “escolhi esperar” do que admitir que educação sexual como medida preventiva é uma questão de saúde pública.

Negá-la ao seu povo é apenas uma das tantas maneiras através das quais a teocracia mata e assola.

Voto de castidade não é prevenção: é fundamentalismo religioso, caretice e, sobretudo, burrice.

Talvez se Damares transasse – em vez de tentar convencer as pessoas a não transarem – o brasileiro tivesse ao menos um dia de paz em meio a um governo de loucos – com todo respeito aos loucos, é claro.