Acabaram os rolezinhos? Nosso enviado especial conta o que viu nos shoppings

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 11:38
No JK
No JK

Um rolezinho incomoda muita gente, dois rolezinhos incomodam muito mais, três rolezinhos transformam-se em carne-de-vaca e a moda cai em desuso.

Com vários eventos marcados para sábado (18), o que aconteceu foi que não rolou rolezinho algum. A exceção foi o convocado por movimentos como Uneafro, Círculo Palmarino, Levante Popular e Periferia Ativa, que embora se intitulasse rolê, na verdade era uma legítima manifestação contra o racismo.

Com mais de 200 pessoas, a manifestação foi recebida de portas fechadas no shopping JK, que na semana passada havia realizado uma seleção para o ingresso em suas dependências, baseada em puro preconceito a apoiada em uma liminar polêmica, com previsão de multa.

Com o shopping fechado, o advogado Eliseu Soares encabeçou uma comissão juntamente com as lideranças dos movimentos presentes, e encaminharam-se ao DP mais próximo para efetuar uma denúncia de crime de racismo. Os demais manifestantes permaneceram em frente ao shopping, o que resultou no não funcionamento do centro comercial pelo resto do dia. Na volta, o advogado Soares afirmou que foram lavrados pelo menos dez BOs. Clientes também permaneceram horas ali, aguardando a reabertura. Ninguém quis falar com a reportagem.

O DCM acompanhou também o evento marcado para ocorrer no shopping Center Norte. Após mais de uma hora de espera, um pequeno grupo de oito garotos tentou entrar mas, ainda no estacionamento, foi interceptado por duas viaturas do GARRA, revistado, e uma oficial de Justiça entregou ao único maior de idade uma notificação judicial, dando ciência de que ele está proibido de participar de outros rolezinhos, sob pena de multa. Todos foram liberados e após inúmeras entrevistas dirigiram-se em direção ao shopping mas já na porta resolveram dar meia volta e deixaram o local.

O assunto onipresente das duas últimas semanas, além de desgastado, pode estar repetindo o fenômeno ocorrido durante as manifestações de junho, em que algumas esferas procuraram se aproximar e “comprar a briga” de algo que era legítimo. Teve, contudo, a interpretação de “pegar carona”, de “se apropriar” de um movimento espontâneo. Isso ocorreu quando os partidos foram recebidos com hostilidade por buscarem “tirar uma lasquinha” e acabaram expulsos em plena avenida Paulista.

Parece que agora, da mesma maneira, um movimento genuinamente nascido na rua e na periferia, sem movimentos sociais, ao se deparar com a politização, com a intelectualização da pauta, acabou se fragmentando. Diluído em vários, tornou-se nada. O que não invalida o debate gerado acerca da tirania consumista e da segregação social e muito menos a “compra” da briga pelos movimentos organizados. A mobilização deles deve ser aplaudida.

Todo o aparato policial e as multas absurdas assustaram? Sem dúvida, mas a evaporação do fenômeno, pode ter um componente tão simples como foi sua precipitação. Nada desagrada mais ao adolescente do que ter seus hábitos, suas gírias, seus locais de encontro, descobertos e invadidos por outrem. Eles pulam fora na hora. Na hora em que caiu na boca e nos ouvidos da mãe, da tia e da avó, acabou.

Há probabilidade que se transforme em outra coisa, com outro nome, em outros locais. Rolezinho de shopping, o autêntico, não rola mais, blz mlk?

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No Center Norte
No Center Norte