
O assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim, alertou que uma intervenção militar externa na Venezuela “pode incendiar a América do Sul” e gerar “radicalização política em todo o continente”. A declaração foi dada à agência France Presse nesta sexta-feira (24), em meio ao aumento das tensões entre os EUA e o governo de Nicolás Maduro.
Segundo Amorim, qualquer ofensiva americana teria “efeitos devastadores”, inclusive com fluxo de refugiados no Brasil e na Colômbia. O alerta ocorre após uma série de bombardeios realizados pelos EUA contra barcos no Caribe e no Pacífico, sob a justificativa de combater o tráfico de drogas.
O governo de Donald Trump acusa o presidente venezuelano de chefiar o Cartel de Los Soles e duplicou a recompensa por sua captura para US$ 50 milhões. Washington também ampliou a presença militar na região, com navios de guerra, caças e submarinos nucleares.
Maduro reagiu pedindo paz e falando em inglês durante um discurso transmitido pela televisão: “Yes, peace, forever. No crazy war.” Ele classificou as ações dos EUA como “ameaça direta à soberania” e acusou Trump de tentar promover uma mudança de regime para explorar o petróleo venezuelano.
Desde agosto, nove embarcações foram bombardeadas por forças americanas, deixando pelo menos 37 mortos, segundo Caracas. Trump, por sua vez, afirmou que estuda “ações terrestres contra cartéis” e que não precisará de autorização do Congresso.

O presidente justificou os ataques dizendo combater o tráfico de drogas responsável por “300 mil mortes anuais” nos Estados Unidos. No entanto, dados da ONU contradizem essa versão: o fentanil, principal droga envolvida nas overdoses, é produzido no México, e não na Venezuela.
Para Amorim, a crise ameaça todo o continente. Ele disse que Lula evitará “dar lições” a Trump, mas insistirá em soluções diplomáticas caso ocorra um encontro entre ambos na Malásia. O presidente brasileiro declarou não acreditar que os ataques sejam “justificáveis” e criticou a postura americana: “Se o mundo virar uma terra sem lei, vai ficar muito difícil”.
A ONU também se manifestou sobre o tema. Especialistas do Conselho de Direitos Humanos afirmaram que os bombardeios em águas internacionais “violam o direito internacional” e equivalem a “execuções extrajudiciais”. O grupo defendeu que os EUA respeitem as normas que proíbem o uso de força letal fora de contextos de guerra declarada.
As operações militares, segundo fontes do Departamento de Guerra americano, incluem destróieres com mísseis guiados, caças F-35, submarinos nucleares e cerca de 6,5 mil militares. A mobilização é uma das maiores desde o início da administração Trump e tem sido vista por analistas como um movimento para reforçar influência na América Latina.
Amorim disse que o Brasil está “atento a qualquer movimento que possa afetar a estabilidade sul-americana” e que “a paz na Venezuela é interesse de todos”. Para o chanceler, a diplomacia deve prevalecer: “Não podemos aceitar uma intervenção externa porque isso criaria um ressentimento imenso”.