“Achei que ele estava brincando quando disse que bebeu veneno”, diz ao DCM irmã de uma das vítimas no caso de Barueri

Atualizado em 20 de novembro de 2019 às 7:46
RG de Edson. Foto: Reprodução

No sábado (16), pelo menos nove pessoas beberam uma garrafa de bebida alcóolica supostamente envenenada em Barueri. 

Entre as vítimas, cinco estão internadas e quatro morreram. Um das vítimas fatais é Edson Sampaio Silva.

Zoreia, apelido de Edson, era alcoólatra, mas, segundo a irmã, Viviane Sampaio, “tinha fases em que ficava meses sem beber, mas de um dia pro outro voltava”.

Os dois dividiam um terreno em Barueri, cada um numa casa pequena e bem modesta. No sábado, Viviane encontrou Zoreia quando saía da sua casa para ir trabalhar, e ele voltava da rua, onde tinha encontrado os amigos, alguns, viciados como ele, mas sem teto.

“Nega, bebi uma cachaça veneno”. Suspeitando que era uma brincadeira e que o irmão só queria dizer que a bebida era muito forte, respondeu: “Não quero você na rua. Vá pra sua casa. Quando chegar, vou te ver”.

Ele então voltou à casa — no terreno, há também o casebre de outro irmão, Edgar.

Viviane foi trabalhar numa empresa em endereço próximo ao local em que as vítimas tiveram contato com a bebida. Lá ouviu que algumas pessoas estavam passando mal numa praça.

Ela foi ao local onde as vítimas estavam convulsionando e um homem que as ajudava disse: “deram cachaça com veneno para eles”.

Depois disso, pediu para sua supervisora para ir embora.

Chegando em casa, viu o irmão desmaiado no quarto.

Ela chamou Edgar e ligou, às 08:53, para o SAMU (Serviço de Atendimento Médico de Urgência). 

Foram os três irmãos para o hospital. 

Durante o trajeto, Viviane diz que Edson “estava com a respiração muito fraca, com dificuldades de falar e de abrir os olhos. Eu tentei tirar a máscara (de oxigênio) dele, mas ele só movimentava os lábios, com muita dificuldade, sem nenhum som”.

Ela não sabe a hora exata em que o irmão morreu, mas estima que tenha sido cerca de dez minutos depois de chegar ao hospital.

Mas só foi comunicada oficialmente às 13 horas, quando uma assistente social chamou os parentes de todos os que haviam morrido. 

Num primeiro momento, sem esperar que a assistente social falasse, ela questionou “o Edson morreu?”. Ela se lembra do silêncio de todos, seguida da confirmação.

A sensação era de um vazio muito grande, seguida da incredulidade. Quem poderia ter envenenado o seu irmão? E por quê? O que ele fez? Era alcoólatra, mas não tinha envolvimento com crime.

“Moradores de rua”:

Ao contrário do que a imprensa noticiou, nem todas as vítimas eram moradores de rua.

Mesmo que fosse, acaso merecia morrer? O sentimento agora em Viviane é de revolta.

“Senti que algumas pessoas achavam que ele era culpado por ter bebido. Como se tivesse merecido aquilo. Como se, pelo fato dele ter um vício, eu tinha que aceitar o que foi feito com ele e pronto”. 

No Facebook, ela manifestou sua indignação:

No Facebook, a irmã de Edson contesta a condição de morador de rua. Foto: Reprodução

Ela promete que vai lutar por justiça. Para Viviane, o irmão vai fazer muita falta. A vida dele se foi talvez como resultado da crueldade de alguém.

A dor vai passar, a saudade não. Ela repete que gostava muito do Zoreia. Sua preocupação é registrar que não era morador de rua, como se morador de rua fosse uma pessoa descartável.

Viviane não quer, sobretudo, que ele seja visto com uma vítima sem nome. Ele era o Edson, o Zoreia, seu irmão. Não merecia morrer.

Ele tinha nome e ela quer que tenha voz. Agora não mais a dele, mas dela, que decidiu não se calar. “Quem fez isso com ele vai ter que pagar”, diz.