
“Acabei de assinar o maior acordo comercial da história, talvez o maior acordo da história, com o Japão”, declarou Donald Trump na terça passada (22). No entanto, uma nova reportagem do Financial Times mostra que autoridades dos Estados Unidos e do Japão não concordam sobre os termos do que foi realmente acertado.
Segundo Trump e sua equipe, o Japão teria se comprometido a investir US$ 550 bilhões em setores estratégicos dos EUA em troca de reduções tarifárias, e os americanos ficariam com 90% dos lucros gerados.
Mas autoridades japonesas têm uma leitura diferente. Um documento apresentado na sexta-feira pelo governo afirma que a divisão de lucros será baseada “no grau de contribuição e risco assumido por cada parte” — ou seja, sem garantias de participação majoritária dos EUA, contrariando o que foi anunciado pela Casa Branca.
O Financial Times também revelou versões contraditórias entre Washington e Tóquio sobre os próprios US$ 550 bilhões. Para o governo Trump, trata-se de uma promessa firme. Já o negociador japonês Ryosei Akazawa esclareceu que o valor é apenas um limite máximo estimado, sem compromisso ou meta obrigatória.
A pesquisadora Mireya Solís, do Brookings Institution, afirmou ao jornal que o acordo “não tem nada de inspirador” e que “ambos os lados fizeram promessas que talvez nem possam cumprir”, sem garantias reais sobre os investimentos japoneses.
De acordo com o FT, o entendimento foi costurado às pressas, em apenas uma hora e dez minutos, entre Trump e Akazawa. Mais grave: autoridades japonesas disseram que nenhum documento foi assinado com Washington, nem há previsão de acordo legalmente vinculante.
Diante disso, surgem dúvidas sobre a própria existência do tal “maior acordo da história”. Como resumiu Brad Setser, do Conselho de Relações Exteriores, em publicação na rede X: “Se algo assim não é formalizado por escrito, então não é realmente um acordo”.