Adiamento de prêmio a autora palestina gera indignação na Feira de Frankfurt

Atualizado em 22 de outubro de 2023 às 20:02
Autora de “Minor detail”, Adania Shibli. Foto: Hartwig Klappert

Publicado originalmente em DW

O adiamento por tempo indeterminado da entrega do prêmio LiBeratur 2023 à autora palestina Adania Shibli, a se realizar originalmente no contexto da Feira do Livro de Frankfurt (18-23/10), despertou incompreensão e repúdio nos meios literários. A justificativa dada para o adiamento foi o conflito desencadeado em 7 de outubro por ataques-surpresa do grupo radical islâmico palestino Hamas contra Israel.

Na abertura da Feira, o filósofo esloveno Slavoj Žižek classificou a decisão como “escandalosa”. Foi também cancelada uma discussão entre Shibli e seu tradutor alemão, Günther Orth. Originalmente em árabe, o romance premiado tem em inglês o título Minor detail e acaba de ser lançado na Alemanha como Eine Nebensache (Um detalhe secundário).

Uma carta aberta, publicada primeiramente na plataforma Arablit.org e já assinada por mais de 1.200 autores, redatores e editores, critica a associação sem fins lucrativos Litprom, de Frankfurt, cofinanciada pelo importante evento literário e responsável pelo LiBeratur: “Num momento em que a Feira expediu um comunicado afirmando querer tornar as vozes israelenses ‘especialmente visíveis’, ela fecha o espaço para uma voz palestina.”

Cancelar eventos culturais “não é o caminho correto”: “Nós nos recordamos da Feira do Livro de Frankfurt que apoiou editores turcos, e do discurso pré-gravado do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, no ano passado.” A Feira teria “a responsabilidade de dar espaço a escritores/as palestinos”, em vez de “abafar seus pensamentos, sentimos e reflexões”.

A carta aberta cita o editor inglês Jacques Testard, da Fitzcarraldo Editions que lançou Minor detail em 2020: “Uma das finalidades da literatura é fomentar a compreensão e o diálogo entre as culturas.” Portanto, “num tempo em que impera tanta violência e dor no coração, a maior feira literária do mundo tem o dever de se engajar por vozes literárias da Palestina e de Israel”.

Autora foi excluída da decisão

Além do adiamento da premiação em si, a carta aberta critica também a propagação de inverdades: no website da Litprom lia-se em 13 de outubro que a decisão fora tomada “devido à guerra em Israel” e “em conjunto com a autora”. Tal não procederia: ninguém perguntou a Adania Shibli se concordava com o adiamento, simplesmente lhe apresentaram o fato consumado, afirma.

Mais tarde a associação teria corrigido sua afirmativa, porém o The New York Times reproduziu a frase original, propagando, assim, o erro ainda mais. A editora americana de Shibli, Barbara Epler, da New Directions, escreveu ao jornal: “Cancelar a cerimônia e assim tentar silenciar a voz de Adania Shibli – ‘devido à guerra em Israel’ – é covarde. Mas dizer que Shibli teria concordado (em meio a todo o sofrimento em Gaza) é pior ainda.”

A própria autora é igualmente citada na carta aberta do meio literário: caso a cerimônia tivesse se realizado, ela teria “aproveitado a oportunidade para refletir sobre o papel da literatura nestes tempos cruéis e dolorosos”.

O LiBeratur se destina a autoras e autores do Sul global. A Litprom, que o concede, faz questão de enfatizar que a premiação em si “em momento nenhum foi questionada”. Apesar de certos críticos terem denunciado em Minor detail uma narrativa antissemita, a associação “rechaça decididamente as acusações e difamações contra a autora e o romance como fatualmente injustificadas”.

Nascida em 1974, Adania Shibli vive e trabalha em Berlim e Jerusalém. Em 2021, foi escolhida como docente convidada Friedrich Dürrenmatt de literatura do mundo da Universidade de Berna, Suíça. Minor detail foi incluído em 2022 na shortlist do Prêmio Internacional de Literatura.

Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link