
Uma adolescente de 17 anos surpreendeu a comunidade científica ao resolver um enigma matemático que intrigava especialistas há quatro décadas. A jovem Hannah Cairo publicou, em 10 de fevereiro, um artigo provando que a conjectura de Mizohata-Takeuchi – hipótese central da análise harmônica – é falsa. Com informações do Estadão.
“Ficamos todos chocados, absolutamente. Não me lembro de ter visto nada parecido”, afirmou Itamar Oliveira, da Universidade de Birmingham, que tentava comprovar a conjectura nos últimos dois anos. O trabalho de Cairo demonstrou que as funções envolvidas se comportam de forma imprevisível, contrariando a teoria aceita até então.
Criada em Nassau, nas Bahamas, e educada em casa, Cairo começou a estudar matemática pela internet, concluindo cálculo aos 11 anos. Autodidata, avançou rapidamente, com apoio eventual de professores remotos. Aos 14, já dominava conteúdos equivalentes a uma graduação em matemática. “Na maior parte do tempo eu lia o livro e tentava provar os teoremas sozinha”, contou.
Durante a pandemia, sua família ficou em Chicago, onde ela participou do Círculo de Matemática local e, depois, do prestigiado Berkeley Math Circle. Lá, cursou disciplinas de nível avançado e ganhou confiança para seguir na área. “A matemática era outro mundo que eu podia explorar. Um mundo que não me limitava”, disse.
No outono de 2023, já em Berkeley, Cairo se inscreveu em um curso de pós-graduação em teoria das restrições de Fourier, ministrado por Ruixiang Zhang. Foi em um exercício proposto pelo professor que ela iniciou a construção de sua prova. Cairo encontrou uma função que se comportava de forma inesperada e demonstrou que a conjectura falhava.
A conquista foi reconhecida internacionalmente. “Este tem sido meu problema favorito por quase 40 anos, e fiquei completamente impressionado”, disse Tony Carbery, da Universidade de Edimburgo. Para Oliveira, o estudo é um marco: “O artigo de Cairo mostra como conjecturas elegantes podem falhar de formas que não imaginávamos”.
Após o feito, a jovem decidiu pular a graduação e foi aceita diretamente no doutorado em Matemática na Universidade de Maryland, onde iniciará seus estudos neste outono. Será seu primeiro diploma acadêmico.