Advogado amigo de Moro e Doria diz que Brasil vive estado de exceção e deixa de pagar fornecedores. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 2 de abril de 2020 às 23:34
Nelson Wilians, Moro e Doria

O escritório de advocacia Nelson Wilians surpreendeu o meio jurídico com uma carta dirigida a seus parceiros, fornecedores e “credores de qualquer natureza” na qual comunica a decisão unilateral de suspender todos os pagamentos. A razão alegada é a crise do coronavírus.

“Vivemos o momento de estado de exceção, recessão global, isto é fato, assim como a COVID-19, seus efeitos são inegáveis, pelo qual ante a queda abrupta de receitas e o futuro incerto que cerca toda nossa nação”, escreve no documento de três páginas.

Wilians apareceu mais recentemente como advogado de Rose Miriam, mãe dos filhos de Augusto Liberato, o Gugu, que disputa na justiça o direito de ficar com a herança deixada pelo apresentador.

Mas ele já se destacava muito antes disso, como amigo de políticos, como Michel Temer, João Doria e o ex-juiz Sergio Moro. Para fechar contrato milionário com o Banco do Brasil, Wilians se apresentou como controlador da maior banca de advocacia do Brasil.

Seu escritório também tem (ou teve) contrato com o gestor do serviço de saúde dos funcionários públicos, a Geap Autogestão, assim como com uma empresa do Porto de Santos, antiga de área de influência de Temer.

O contrato da Geap foi obtidos depois que Michel Temer assumiu a presidência, no lugar de Dilma Rousseff, em 2016. Ele também foi patrocinador de uma palestra de Sergio Moro em Nova York, feito que chegou a ser denunciado ao Ministério Público Federal por apresentar uma situação de conflito de interesse.

Na época, Moro era o juiz responsável pelos processos que envolviam a Petrobras, dentro da Lava Jato. Wilians tinha a Petrobras como cliente de seu escritório.

Apresentado na imprensa como novo milionário, Wilians é donos de aviões e chegou a ceder um deles para deslocamento de João Doria pelo Brasil,  quando este, prefeito de São Paulo, fazia pré-campanha a presidente da república.

Wilians também patrocinou eventos da Lide, a empresa fundada por Doria que realizava conferências com autoridades e de network entre grandes empresários do país.

Com um pé na advocacia e outro no relacionamento com políticos, Wilians ajudou o ator Alexandre Frota, hoje deputado federal, a realizar campanha pela cassação de Dilma Rousseff.

No dia da votação do impeachment, Frota foi a Brasília num avião do advogado.

Seu escritório também mantém relacionamento com a esposa de Moro. Circula na internet o vídeo da festa que realizou em Curitiba para homenagear sua sócia, Sandra Marchini Comodaro, agraciada em 2017 com o título de Cidadã Honorária do Paraná, concedido pela Assembleia Legislativa.

Rosângela e Sergio Moro estavam presentes. O ex-juiz, por sinal, quase da mesma idade de Wilians, nasceu e cresceu na mesma região do advogado, em Maringá.

Pela vida de luxo que ostentou e a influência política, Wilians era o último advogado de quem se esperava deixar parceiros e fornecedores sem pagamento nesta fase difícil da economia brasileira.

O que se imaginava é que seu patrimônio — e o da sua banca — fosse suficiente para manter em dia seus compromissos financeiros. Talvez seja. mas, numa hora dessas, há os que honram contratos e há também os que se aproveitam da situação de calamidade para suspender pagamentos.

É uma questão que ele terá que resolver com seus contratados. O que, de plano, se pode refutar é que o Brasil esteja vivendo o estado de exceção no sentido clássico.

Seria estado de exceção se Jair Bolsonaro — o presidente que ele, com suas ações desde 2016, ajudou a colocar no poder –, tivesse fechado o Congresso e o Supremo, e rasgado a Constituição e as leis.

Ainda não vivemos esta fase, e as leis e a Constituição, que asseguram a validade dos contratos, vigoram.

Wilians e o avião cedido a Doria

Abaixo, a carta que o escritório Nelson Wilians enviou a seus contratados: