“Advogados se tornaram automaticamente suspeitos”, diz Batochio ao DCM sobre operação da PF em seu escritório. Por Zambarda

Atualizado em 29 de agosto de 2019 às 22:33
Batochio

No dia 23 de agosto, a juíza Gabriela Hardt, responsável por autorizar os mandados na 64ª fase da Operação Lava Jato, determinou que policiais federais cumprissem mandado de busca e apreensão no edifício do antigo escritório de advocacia de José Roberto Batochio.

No caso, a PF alega que a Odebrecht realizou duas entregas de valores em espécie no escritório em 2012, no valor de R$ 1 milhão.

Batochio não atende mais no local e nega o recebimento desses valores.

O escritório do advogado, que defende o ex-presidente Lula, soltou uma nota no dia negando que foi alvo direto da operação, afirmando que o edifício é que foi investigado. Na mensagem, classificou a ação no edifício como um “abuso”. 

E sobre o suposto pagamento, o escritório de Batochio afirmou que: “lamenta-se que aleivosias e falácias propaladas por um delator, mesmo que desmentidas pelos elementos colhidos na própria investigação, possam servir de supedâneo ao pleito de medida dessa gravidade que, embora indeferida, acaba produzindo danos irreversíveis à honra e à imagem das pessoas”

O presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, afirmou que a ação da PF foi uma “execrável demonstração de que o abuso, nos dias que correm, não conhecem mesmo quaisquer limites”.

O DCM entrevistou Batochio.

Diário do Centro do Mundo: Acompanhamos a operação da PF no seu antigo escritório pela imprensa. O que aconteceu de fato naquele dia?

José Roberto Batochio: De fato, o que aconteceu foi o seguinte. Você viu essas últimas notícias que saíram. Expediram um mandado contra o genro do Odebrecht. A polícia requereu e o juiz autorizou que fossem recolhidos todos os documentos que fizessem alusão ao José Eduardo Cardozo, Nelson Jobim, Márcio Thomaz Bastos, Marcos Botelho, Dora Cavalcanti e mais alguns.

Dentro dessa linha, o que aconteceu no prédio do meu antigo escritório foi que eles estavam interessados em verificar, na catraca eletrônica, de entrada e saída do prédio, alguns dados e quem tinha passado lá numa determinada data.

Ao que fui informado, o que se passou foi isso.

Teve também uma manifestação importante do Felipe Santa Cruz, presidente da OAB, sobre seu caso…

Ele disse que foi uma “execrável ação”, não disse?

Execrável bisbilhotar a vida dos advogados com os clientes, ele quis dizer, em qualquer circunstância. Isso se repetiu no caso do Jobim e do José Eduardo Cardozo. Agora, os advogados que promovem a defesa de quem é acusado se tornam automaticamente suspeitos de alguma coisa.

O senhor está vivendo essa situação diretamente, não é?

Exatamente. Mas nós temos que continuar a luta pela liberdade e pelos direitos da pessoa humana. Seja acusada do que for.

O que o senhor está achando da Vaza Jato e do que está sendo revelado em reportagens?

Vi as pessoas fazendo comentários menos nobres sobre falecidos. Realmente isso é uma coisa que choca.

É chocante pela perseguição?

Não, é chocante pelo tratamento dado ao evento morte de um familiar de uma pessoa que está sendo processada. A morte inspira solidariedade, compaixão, humanização. Alguém falando algo menos adequado do que isso é realmente chocante.

Quanto ao episódio da Polícia Federal, não teve mais nenhum desdobramento, certo?

Que eu saiba, não. Pelo menos visível, não (risos). Podemos estar falando agora com mais de duas pessoas ao telefone. Mas isso é só uma suposição.