África vai se partir? Entenda o fenômeno que pode criar um novo oceano

Atualizado em 14 de outubro de 2025 às 15:11
Rachaduras no Triângulo de Afar formadas pelo afastamento das placas tectônicas. Foto: Reprodução

Um grupo internacional de pesquisadores descobriu que o calor vindo das profundezas da Terra está gradualmente empurrando e separando as placas tectônicas sob o leste da África. O estudo, publicado na revista Nature Geoscience, mostra que o manto terrestre na região da Afar, no nordeste da Etiópia, libera energia de forma cíclica, em um ritmo que os cientistas compararam aos “batimentos de um coração geológico”.

Essa área é considerada uma das mais instáveis do planeta. Nela se encontram três grandes fendas da crosta terrestre: o Rifte da África Oriental, o Rifte do Mar Vermelho e o Rifte do Golfo de Áden. À medida que o calor sobe do interior do planeta, ele empurra as placas tectônicas, esticando o solo e provocando rachaduras de quilômetros de extensão, algumas visíveis até por satélites.

A pesquisa mostra que o manto sob a região de Afar não é uniforme nem constante. “Nós descobrimos que o manto pulsa e essas pulsações carregam assinaturas químicas distintas”, explicou a geóloga Emma Watts, da Universidade de Swansea, que liderou o estudo.

Segundo ela, esses movimentos repetitivos funcionam como uma “respiração” da Terra: o calor sobe, o solo se expande e, com o tempo, o continente começa a se separar. Esses processos também estão por trás de terremotos e vulcões que ocorrem na região.

Fluxos de lava ativos descem do vulcão Erta Ale, na região de Afar, nordeste da Etiópia. Foto: Dr Derek Keir, University of Southampton/University of Florence

Para entender melhor o fenômeno, os cientistas analisaram 130 amostras de rochas vulcânicas e aplicaram modelagens estatísticas avançadas. Eles identificaram um grande reservatório de material quente, uma pluma mantélica, subindo de dentro da Terra, com faixas químicas que se repetem como “códigos de barras” geológicos.

O professor Tom Gernon, coautor do estudo, comparou o fenômeno à circulação sanguínea humana. “As faixas químicas indicam que o manto pulsa, como um batimento cardíaco. Em regiões onde as placas se afastam mais rápido, como o Mar Vermelho, essas pulsações viajam de forma mais eficiente e regular, como o sangue passando por uma artéria estreita”, afirmou.

Os cientistas apontam que esse processo é natural e extremamente lento. A separação completa do continente africano pode levar dezenas de milhões de anos, até que o espaço entre as placas se transforme em um novo oceano. Mesmo assim, acompanhar o fenômeno hoje ajuda a entender como oceanos antigos, como o Atlântico, surgiram no passado.

O estudo também reforça que o mesmo tipo de movimento tectônico foi responsável pela fragmentação da Pangeia há cerca de 150 milhões de anos, evento que deu origem aos continentes atuais. “As próximas etapas da pesquisa incluem compreender em que velocidade o fluxo do manto ocorre sob as placas”, explicou Derek Keir, coautor e pesquisador das universidades de Southampton e Florença.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.