Ágatha Félix e as crianças assassinadas no Rio: não é “bala perdida”, é bala achada. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 22 de setembro de 2019 às 16:14
Ágatha Félix

Um eufemismo idiota precisa ser retirado de circulação no Brasil.

A menina Ágatha Félix teria sido morta por “bala perdida”, assegura a mídia.

Nada mais falso. Nada mais canalha, eventualmente.

Ágatha foi alvejada nas costas numa Kombi, ao lado do avô, por um policial que disparou contra o veículo.

Não foi um tiro de advertência para cima. Não estava ocorrendo um tiroteio, de acordo com as testemunhas.

Ela é a 16ª criança baleada por arma de fogo no Rio apenas neste ano, segundo levantamento da organização Fogo Cruzado.

Essas foram as vítimas reconhecidas, veja bem.

É muita gente pobre sendo atacada, basicamente, da mesma maneira.

Jenifer Silene Gomes, de 11 anos, estava na porta de um bar, descascando cebolas, na favela de Jacarezinho, quando foi atingida. Morta.

Kauã Vítor Nunes Rozário andava de bicicleta, no Bangu, quando a bala de um fuzil perfurou-lhe as costas. Morto.

Estatisticamente, não faz sentido atribuir esses óbitos ao acaso.

É política de estado.

É algo intencional, articulado, pensado pelo governador Wilson Witzel e levado a cabo pela PM.

Não é bala perdida.

É bala achada.

Bala com alvos evidentes numa parte da cidade sobre a qual Wilson Witzel já quis jogar uma bomba. 

 

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.