Água mole em pedra dura: como os vazamentos estão minando a credibilidade da Lava Jato. Por Helena Chagas

Atualizado em 16 de julho de 2019 às 11:24
Deltan Dallagnol é a bola da vez. Foto: Agência Brasil

PUBLICADO NO PORTAL OS DIVERGENTES

Diferentemente do que ocorre normalmente nos escândalos midiáticos, que costumam ter um clímax num fato ou denúncia mais forte, e depois vão declinando, o caso Vaza Jato vai saindo em capítulos. No mundo formal e jurídico, sob a alegação de que as mensagens vazadas pelo The Intercept, em conjunto com a Folha de S.Paulo e a Veja, não tiveram sua autenticidade comprovada, ainda não produziu nenhuma decisão que pudesse anular ou suspender atos da Lava Jato. Na vida real, porém, seu impacto vai crescendo.

Na linha daquele velho ditado, segundo o qual água mole em pedra dura tanto bate até que fura, a cada semana as conversas divulgadas vão desgastando personagens. Mais do que o ex-juiz Sergio Moro, a bola da vez no momento é o procurador Deltan Dallagnol, protagonista dois dois últimos vazamentos.

Seus supostos planos de lucrar com a imagem da Lava Jato, montando uma empresa de palestras, revelados na manchete da Folha deste domingo, devem reabrir representação contra ele arquivada há poucos dias no CNMP pelo corregedor Orlando Rochadel. Segundo integrantes do órgão, no início de agosto o assunto voltará à pauta e, desta vez, dificilmente será arquivado, pois se juntará a outras acusações de parcialidade contra o procurador que lá tramitam – como sua participação, via redes, na campanha para eleição do presidente do Senado.

Também no plano da vida real, o Intercept pode não ter mudado – ao menos ainda – o voto do ministro Edson Fachin (aquele que, segundo Dallagnol, Uhu, Aha, “é nosso”) mas já tirou dele declarações duras contra erros de juízes e a possibilidade de sua punição. Como estará Fachin em agosto?

Da mesma forma, no cálculo de advogados de acusados da Lava Jato, devem ter seu peso as revelações trazidas por Veja, segundo a qual Dallagnol contou aos colegas ter conversado sobre casos em julgamento com o relator no TRF-4, João Pedro Gebran Neto, que lhe teria antecipado decisões. É muito difícil comprovar tal tipo de conversa, mais ainda punir ou destituir um juiz em função dessa promiscuidade com o acusador. Mas é possível que sua revelação resulte num comportamento mais comedido e cuidadoso do próprio TRF-4.

Afinal, até agora a segunda instância curitibana vem servindo como principal escudo de defesa do ministro Sergio Moro por reafirmar praticamente todas as suas condenações na Lava Jato – inclusive e sobretudo a do ex-presidente Lula. No momento em que o TRF-4 entra na roda dos questionamentos  à sua imparcialidade, abre-se um flanco e muita coisa pode mudar. Inclusive a pressa que, diz-se, o tribunal teria em julgar logo o caso de Atibaia para manter Lula preso.