“Água reciclada”: Sabesp quer usar esgoto tratado para reforçar abastecimento em SP

Atualizado em 5 de outubro de 2025 às 22:06
Sabesp,a companhia de águas e saneamento básico de SP. Reprodução

A Sabesp estuda a possibilidade de utilizar água tratada de esgoto para recarregar reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo. O plano, em fase de análise, prevê o uso de 2.800 litros por segundo de água tratada para reforçar os sistemas hídricos e mitigar a escassez. A proposta surge em um cenário crítico: a Grande São Paulo possui apenas 10% da disponibilidade hídrica recomendada pela ONU por habitante, número inferior ao do semiárido nordestino.

De acordo com a empresa, dois sistemas devem receber a água de reuso. O sistema Cotia, na zona oeste da Grande SP, seria abastecido com cerca de 2.000 litros por segundo vindos da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Barueri, enquanto o sistema Alto Tietê, na região de Suzano, teria o acréscimo de 800 litros por segundo processados pela ETE Suzano. Após o tratamento, a água passaria por polimento e nova filtragem antes de ser direcionada às Estações de Tratamento de Água (ETAs).

O diretor de Planejamento e Projetos de Engenharia da Sabesp, Marcel Sanches, afirmou que a proposta integra a estratégia de diversificação da matriz hídrica da companhia. “O objetivo é garantir segurança no abastecimento, principalmente em momentos de escassez como o atual”, declarou. Segundo ele, o Sistema Integrado Metropolitano (SIM), que reúne os principais reservatórios da região, operava com apenas 30,8% da capacidade no início de outubro.

Durante a apresentação do projeto, realizada na sede da Sabesp em São Paulo, também participaram a diretora-executiva de Operação e Manutenção, Débora Longo, e o diretor de Engenharia e Inovação, Roberval Tavares. Eles ressaltaram que o uso de água de reuso é prática consolidada em locais como Barcelona, Singapura, Califórnia e Brasília — onde o Lago Paranoá utiliza sistema semelhante.

Sanches explicou que o estudo deve ser concluído até março de 2026, com início das obras previsto para o segundo semestre do mesmo ano. A expectativa é que o sistema entre em operação em dezembro de 2026. Ele destacou ainda a necessidade de quebrar o tabu sobre o reuso. “Há tecnologia avançada e padrões de segurança rigorosos. Essa é uma tendência global diante das mudanças climáticas”, disse.

A ampliação do tratamento de esgoto é considerada essencial para aumentar a disponibilidade de água na Grande São Paulo. Segundo dados da Sabesp, em 1991 apenas 17% do esgoto das cidades atendidas era tratado. O índice chegou a 66% em 2023, e a mancha de poluição do Rio Tietê caiu de 207 km em 2024 para 174 km neste ano.