“Ah, mas aglomeraram…” E há outro jeito de parar o genocídio? Por Fernando Brito

Atualizado em 20 de junho de 2021 às 11:31
Manifestação contra Bolsonaro em Florianópolis(Foto: Mateus Castro / NSC TV)

Publicado originalmente no Tijolaço

Por Fernando Brito

São poucos, mas persistem na imprensa os que fazem um coro disfarçado ao único discurso do bolsonarismo para desqualificar o que não se pode mais esconder: a crescente mobilização contra o governo genocida que nos levou a meio milhão de mortos e que, com a média de óbitos que temos diariamente, acrescenta 15 mil corpos a esta conta macabra.

Um deles escreve na Folha:

As cenas de multidões nas ruas obviamente abriram um flanco para os opositores do governo, que passaram meses denunciando aglomerações de Bolsonaro. Como pontuou Carlos Bolsonaro: “Aglomerar hoje não é genocídio. A partir de amanhã volta a ser”.

Na “análise” intitulada “Presença da esquerda dá brecha para bolsonaristas carimbarem atos como pró-Lula“, diz-se que “as cenas de multidões nas ruas obviamente abriram um flanco para os opositores do governo, que passaram meses denunciando aglomerações de Bolsonaro”. E dar suporte ao discurso bolsonarista de que as manifestações seriam ” apenas mais uma demonstração de astúcia vermelha”. “Astúcia vermelha” sem aspas, no original.

Pode até não ser uma elaboração racional, mas o raciocínio embute a mesma ideia de criminalização da esquerda, que há anos assola parte do jornalismo brasileiro.

Estranha ideia de democracia esta em que você tem a liberdade de seu de esquerda, desde que seja mudo e não exerça o direito universal de manifestar suas opiniões.

Deixar o isolamento prudente não foi uma escolha, tanto que durante meses a oposição de esquerda absteve-se da rua, em nome do isolamento antiCovid. E continuaria abstem-se se as instituições da república estivessem cumprindo o seu papel, bloqueando o negacionismo charlatão do presidente e obrigando o governo brasileiro a adotar, além das vacinas, as medidas de proteção contra o contágio que o mundo civilizado adotou.

O Legislativo, do qual Bolsonaro tomou conta com sua distribuição de emendas, não o fez. O Judiciário limitou-se a dizer que “quem quiser faz, quem não quiser não faz”. O Ministério Público empenha-se em dormir sobre as questões sanitárias. O Conselho Federal de Medicina, numa atitude monstruosa, segue dando cobertura para o gabinete paralelo da Saúde empurrar cloroquina goela abaixo dos brasileiros. O Exército brasileiro, ao deixar impune a participação de um de seus oficiais da ativa, depois de dar cobertura ao genocídio no Ministério, ir a um palanque do “vírus para todos” presidencial.

Todos, todos, quase sem exceções, calaram ou apenas gaguejaram diante dos vetores da morte.

Só há pouco tempo houve alguma reação institucional, com a CPI da – Covid, embora ainda se dê voz, num “democratismo” que se assemelha àquele sujeito que achava portar braçadeiras com a suástica um ato de “liberdade de expressão” – a quem diz que “a ciência está dividida”.

O que será que nossos “analistas” isentões acham que se deve fazer? Só bater panelas e sinos fúnebres?

O Brasil não é feito de covardes e está claro, já, que o que começou no dia 29 de maio e amplificou-se ontem. É possível que, dado o grau de canalhice que existe nos círculos dominantes e de “punhos de renda” vá se atribuir aos atos pela vida o inexorável crescimento das mortes que virá, nos próximos dias, o que a elevação do número de casos antecipa.

A centenas de “notas de pesar” que se vê nos jornais não vão parar a tragédia. Talvez nem mesmo a pressão das ruas.

Mas é preciso agir, sem medo.