AI-5 do Guedes e licença para matar sem punição: a escalada do nazifascismo. Por Ricardo Kotscho

Atualizado em 26 de novembro de 2019 às 18:19
Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

Publicado originalmente no Balaio do Kotscho

Por Ricardo Kotscho

Entregue a um bando de vândalos alucinados, o Brasil deve ser o único país do mundo em que, neste momento, o governo, e não a oposição de descontentes, procura provocar uma convulsão social.

Nos países vizinhos, é o povo que sai às ruas para protestar contra o governo; aqui, é o governo que, numa escalada nazifascista, quer provocar a oposição para uma guerra nas ruas.

Em Washington, na segunda-feira, onde foi prestar contas ao mercado, Paulo Guedes, o ministro da Economia, chamado de Posto Ipiranga, resolveu jogar gasolina na fogueira ao afirmar:

“Não se assustem se pedirem o AI-5”.

Quem deve se assustar? Nós ou os especuladores? E quem vai pedir o AI-5?

Do nada, ao comentar a conflagração institucional em países da América Latina, Guedes disse que era preciso “prestar atenção na sequência de acontecimentos nas nações vizinhas para ver se o Brasil não tem nenhum pretexto que estimule manifestações do mesmo tipo”.

Pretexto, como assim? Quem está em busca de pretexto para colocar as tropas na rua é o capitão-presidente Bolsonaro, ao conceder licença para matar a policiais e militares nas operações GLO (Garantia da Lei e da Ordem) contra manifestações nas cidades e ocupações de terra no campo.

No mesmo dia, Bolsonaro anunciou que a União pode recorrer às GLO para reintegração de posse em área rural e disse que “certos protestos de rua acabarão” se for aprovado o excludente de ilicitude (licença para matar sem punição) para militares e policiais.

Que protestos de rua eles estão vendo, aonde?

A única grande manifestação nos últimos meses no Brasil aconteceu domingo, durante as comemorações do Flamengo no Rio, que terminaram num campo de batalha, quando a PM do governador neonazista Wilson Witzel começou a atirar bombas de gás e spray de pimenta na multidão em festa.

Assustado com a libertação do ex-presidente Lula, o banqueiro Paulo Guedes está vendo fantasmas para justificar a repressão que o governo já vem ensaiando.

“Chamar o povo para a rua é de uma irresponsabilidade. Chamar o povo para rua para dizer que tem o poder, para tomar. Tomar como? (…) Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez?”

Lula é o objeto oculto das ameaças de Guedes à democracia em parceria com o capitão presidente que levou 2.500 militares para o governo.

Como não há nenhum protesto previsto pelos partidos de oposição, quem está chamando o povo para a rua são os que já se encontram no poder, destruindo a economia nacional e acabando com os direitos dos trabalhadores e aposentados.

A reação ao destempero beligerande de Paulo Guedes foi imediato, enquanto o dólar disparava e a Bolsa caía.

O presidente do STF, Dias Toffoli, alertou o ministro que “o AI-5 é incompatível com a democracia. Não se constrói o futuro com experiências ultrapassadas no passado”.

“Um governo de covardes, sob todos os aspectos”, reagiu Fernando Haddad, ex-presidenciável do PT.

Pelo Twitter, Lula foi direto ao ponto:

“Vamos deixar uma coisa clara: se existe um partido identificado com a democracia no Brasil é o Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu lutando pela liberdade e governou democraticamente. Não fomos nós que elegemos um candidato que tem ojeriza à democracia”.

Estão botando chifre em cabeça de cavalo enquanto adestram suas “SS” nativas para impedir que o povo manifeste sua indignação e revolta contra tudo o que está acontecendo no país.

Querem governar pelo medo, como aconteceu na Alemanha e na Itália nos anos 30 do século passado, quando o mundo também demorou para se dar conta dos perigos que estava correndo.

É assim que os regimes totalitários começam, semeando o terror para combater os inimigos.

Quanto mais fraco o governo, quanto pior é a situação do povo, mais eles se sentem emponderados para se apresentarem como salvadores da pátria.

Nem originais eles são. Esse filme é velho, do tempo do cinema em branco e preto.

Só uma coisa é certa: desse jeito, dias piores virão, antes que o país restabeleça a plena democracia e o Estado de Direito.

Com o trio sociopata Jair Bolsonaro, Sergio Moro e Paulo Guedes solto por aí, corremos o risco de um retrocesso sem precedentes.

Espero estar errado.

Vida que segue.