O padre Airton Frere, acusado de ter cometido e ordenado estupros, é bastante influente na cidade em que sua igreja atuava, em Arcoverde, no agreste pernambucano. O religioso, que hoje é suspeito de ter cometido os atos hediondos, já gravou 180 CDs com músicas e pregações e publicou 90 livros, além de dar retiros espirituais.
Na internet, a presença de Airton também é forte: são 133 mil seguidores no Instagram e 38 mil inscritos em seu canal de YouTube.
“Estamos (padres) a serviço do povo. Somos retirados do povo e preparados para voltar a esse povo. E o pastor tem que ir onde estão as ovelhas”, disse Freire, em entrevista. “Tem que ter cheiro de ovelhas. Pastor não existe sem ovelhas. O pastor se constitui pastor a medida do cuidado com as ovelhas. Se não for assim, ele é lobo”.
Airton nasceu em 1955 na cidade de São José do Egito, Pernambuco, e, ainda jovem, foi estudar em Recife, onde se formou em Filosofia, Teologia e Psicologia. Ordenou-se padre em 1982 e, no mesmo ano, foi designado para a paróquia de Arcoverde.
Poucos meses depois, chamou a atenção por decidir ir morar em um local da cidade conhecido como “Rua do Lixo”, uma região com um depósito de resíduos sólidos a céu aberto na qual a população mais pobre frequentava em busca de alguma coisa para comer ou vender.
A partir daí, ele criou a Fundação Terra. Hoje, a instituição tem três escolas, duas creches, um abrigo para idosos e um centro de reabilitação física em Arcoverde e em Maracanaú, Ceará. São mais de três mil famílias cadastradas.
Freire era “conhecido” por ser um homem adepto da renúncia aos bens materiais. Antes de ser preso, ele vivia isolado em uma casinha de taipa, que fica a um quilômetro da enorme sede da Fazenda Malhada, local do retiro espiritual comandado pelo religioso com quarenta apartamentos. Mais tarde, essa mesma “casinha” seria palco dos estupros cometidos por ele.
As polêmicas envolvendo o religioso tiveram início após em Maio deste ano, a personal stylist Sílvia Tavares de Souza ter o denunciado alegando ter sido vítima de abusos sexuais ordenados pelo padre. Segundo Sílvia, Freire mandou que um funcionário a estuprasse enquanto ele assistia a cena e ria.
“Ele disse: “Minha princesa, passei a noite todinha rezando, principalmente, por você, então eu queria uma massagem”. As pessoas dizem “mulher inocente”. Mas, para mim, ele era um santo. Quando eu cheguei no cóccix, percebi que ele estava sem nada e pulei da cama. Aí o motorista pegou a faca, botou no meu pescoço e me deu uma grava. Disse: “Quieta, se você colaborar, ninguém morre”, relatou Sílvia.
Ela contou que o padre começou a se masturbar e disse para o motorista cometer o estupro.
“Ele ficava comandando a ação”, afirmou.
O funcionário seria Jailson Leonardo da Silva, que trabalhava como motorista de Freire. Ele segue foragido.
Recentemente, outra pessoa, desta vez um homem, surgiu relatando também ter sido vítima de Airton, inclusive, na mesma casa de taipa dos outros relatos.
“Eu me acordei em uma cadeira que tem próxima da mesinha, só de cueca e senti meu corpo, né? A gente sente o corpo da gente diferente”, disse a vítima.
O religioso de 67 anos de idade, segue preso preventivamente desde o dia 14 de julho. No domingo (23), no entanto, foi internado no Hospital Português, no Recife, após uma crise de hipertensão. A defesa do padre segue negando as acusações.