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Alckmin gasta milhões em tanques para combater o crime — ou seja, os professores. Por Mauro Donato

Os blindados de Alckmin

 

Na manifestação de professores e alunos da rede pública estadual ocorrida em frente ao Palácio do Governo, um monstro chamou a atenção. Postado logo atrás do cordão de policiais do Choque, parecia uma criatura do Transformers pronta a trucidar quem se aproximasse mais um pouco do portão. Muitos manifestantes perguntavam que novidade era aquela.

Pois bem, trata-se de veículo blindado recém adquirido pelo governo do estado. De fabricação israelita, tem o custo de R$ 5 milhões. Cada um. Sim, cada um. Foram compradas seis unidades, o que totaliza uma despesa de 30 milhões de reais.

Enquanto professores estavam ali na rua, debaixo de um sol escaldante, vindos de muito longe, sem haver conseguido um centavo sequer de reajuste, tendo que trabalhar em condições que os obrigam a levar o próprio papel higiêncio de casa, o governador exibia seu novo brinquedo.

O orçamento para Segurança é um e para Educação é outro? Sim. São budgets distintos. Mas o que é prioritário para um país? Segurança é evidentemente um tema prioritário em SP, mas a aquisição desses monstrengos é pra lá de controversa.

Cada veículo tem capacidade para 24 homens, uma tropa inteira. Sua blindagem é nível 4, o que significa que é capaz de suportar tiros de fuzil. Mesmo se atingidos, os pneus podem rodar por mais 160 km. Acompanha um sistema de câmeras, canhões de água e possibilita aos ocupantes atirar de dentro do caminhão, sem se exporem.

Fantástico, não? Então onde vai ser usado o caveirão dos paulistas? A criminalidade agora vai tremer nas bases?

Segundo o comandante do 3º Batalhão de Choque, Joselito de Oliveira Júnior, não é bem assim. As operações realizadas pelo Caveirão no Rio de Janeiro não podem ser comparadas com o cenário da capital paulista. “As realidades são totalmente distintas. Aqui as comunidades são menores, menos espaçosas e não temos o tipo de ataque que os policiais sofrem no Rio, é diferente.”

Os caminhões não conseguem entrar, entendi direito? E a polícia daqui não sofre ataque que necessite um escudo dessa magnitude. Se não vão para o crime, vão onde então? Quais suas reais utilidades?

“A ideia é utilizar os veículos em situações como jogos de futebol e combate a incêndios”, completou o comandante Joselito.

Seis veículos de R$ 5 milhões cada, capazes de atuarem em uma guerra, foram comprados para combater incêndios e agirem nas cada vez menos frequentes batalhas campais de torcidas?

Claro está que a finalidade maior será a mesma do dia 15 de outubro: atuar em manifestações. Com a lei antiterrorismo tramitando no senado, que exclui um dispositivo que isentaria movimentos sociais e manifestações políticas, serão eles, os movimentos e seus ativistas, os inimigos a quem os Transformers de Alckmin irão combater.

A lei esdrúxula já foi aprovada na Câmara e vai para votação no Senado sem a ressalva: “Não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades”. Isso foi deletado pelo relator do projeto, senador Aloysio Nunes, do PSDB obviamente. Por que?

A discussão sobre a necessidade da lei tem proporcionado imensos debates pois direitos civis estão seriamente ameaçados, mas alguém duvida que ela colabora na justificativa da compra dos caminhões?

Professores que se cuidem, vem chumbo grosso aí.

 

Mauro Donato

Jornalista, escritor e fotógrafo nascido em São Paulo.

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