
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), tem usado um “trunfo político” para tentar convencer o presidente Lula (PT) a escolher o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria antecipada do ministro Luís Roberto Barroso, conforme informações da colunista Malu Gaspar, do Globo.
A estratégia se apoia em um “número mágico” de votos que, segundo aliados, garantiria a aprovação de Pacheco com folga no plenário do Senado. Alcolumbre tem dito a interlocutores que Pacheco seria aprovado com facilidade, com pelo menos 60 votos — quase 20 a mais que o mínimo exigido.
“Sabemos que Pacheco teria mais de 60 votos, fácil. E Messias, hoje, menos de 41”, afirmou um aliado do senador, em referência ao advogado-geral da União, Jorge Messias, atual favorito de Lula para o cargo.
O levantamento informal, que funciona como um termômetro do Senado, é usado como argumento central por Alcolumbre e seus aliados para tentar demover o Planalto de escolher Messias. Para o grupo, a indicação de Pacheco seria politicamente mais segura e menos suscetível a resistências entre parlamentares.
Senado dividido
O indicado de Lula ao STF precisa passar por sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e obter ao menos 41 votos no plenário para ser aprovado. Embora o Senado não rejeite uma indicação presidencial desde 1894, quando Floriano Peixoto estava no poder, a base governista teme constrangimentos se o nome de Messias for levado à votação.
O ambiente no Congresso é considerado delicado. Na semana passada, o governo enfrentou uma derrota na Câmara, que deixou caducar uma medida provisória sobre a tributação de aplicações financeiras, o que representaria um alívio de R$ 35 bilhões aos cofres públicos.
Para senadores próximos de Alcolumbre, a aprovação tranquila de Pacheco seria uma vitória política em um momento de instabilidade para o governo.

Resistência a Messias e “trauma” com Dino
No Senado, o favoritismo de Messias gera desconforto. Parlamentares o classificam como um “quadro ideológico do PT” e “homem de confiança de Lula”.
Interlocutores de Alcolumbre afirmam que a base governista ainda está “traumatizada” com a nomeação de Flávio Dino, relator de processos no STF que atingiram o chamado orçamento secreto e investigações sobre emendas parlamentares.
Da atual composição da Corte, Flávio Dino e André Mendonça foram os ministros que mais enfrentaram resistência no Senado. Ambos acabaram aprovados com 47 votos — apenas seis a mais que o necessário.
Em 2021, Alcolumbre chegou a conduzir uma campanha contra Mendonça, então indicado por Jair Bolsonaro, tentando forçar a escolha de Augusto Aras, procurador-geral da República à época.
Pressão da oposição e ataques a Messias
Enquanto Lula adia a decisão, aliados de Jair Bolsonaro se articulam nas redes sociais e no próprio Senado para tentar constranger uma eventual indicação de Jorge Messias.
A ofensiva deve ressuscitar um episódio de 2016, quando uma gravação da Operação Lava Jato mostrou a então presidente Dilma Rousseff se referindo a Messias — chamado por ela de “Bessias” — em conversa com Lula sobre o envio de um termo de posse.
O áudio, divulgado por Sergio Moro durante a investigação que levou à prisão do petista, é visto pela oposição como munição política contra o atual advogado-geral da União, que à época era subsecretário de Assuntos Jurídicos da Casa Civil.
