Além de estarem apenas fumando um baseado, brigadistas usavam técnica correta no combate ao fogo. Por Donato

Atualizado em 29 de novembro de 2019 às 11:37
Brigadistas em Alter do Chão (Foto: Reprodução/Instagram)

Graças a Fernando Collor e seu confisco hediondo, no início daqueles nefastos anos 90 aceitei o primeiro emprego que coincidentemente também me aceitou.

Fui trabalhar em uma fábrica de fraldas (material altamente inflamável) e tornei-me brigadista de incêndio, função extra que exerci durante os anos em que lá trabalhei.

Entre as primeiras lições que qualquer brigadista recebe estão: 1- como se origina o fogo; 2- formas de combate.

Mesmo em um ambiente fabril e urbano, qualquer curso básico demonstra que uma das formas de se combater incêndio em matas e florestas é ateando fogo também.

Sim, isso existe e é fundamento primário. Chama-se backburning, mas é comumente conhecido como “fogo contra fogo”.

Qualquer bombeiro sabe.

Mas como estamos sob um governo ignorante, mentiroso e maldoso, a provável ação dos brigadistas em Alter do Chão foi imediatamente manipulada com o propósito de incriminar ONGs.

A técnica consiste em criar uma linha de alastramento controlado ao redor do perímetro do incêndio levando-se em conta a direção do vento.

Mesmo sem ventos favoráveis a técnica pode ser usada. A diferença de pressão entre as áreas irá jogá-las uma contra a outra de modo a eliminarem-se dois dos três elementos vitais para o fogo: oxigênio e combustível. Pronto.

Mas na idiocracia em que estamos vivendo, quatro garotos voluntários e bem-intencionados foram jogados atrás das grades por estarem atuando contra uma das principais políticas bolsonaristas: devastar a Amazônia e abrir terreno para a sanha do agronegócio.

Assim, uma técnica primária e banal de combate ao fogo foi maliciosamente utilizada pelos governantes como uma ação criminosa.

“É cógnito ainda, segundo militares que chegaram primeiro no local, que é comum as brigadas de incêndio, sobretudo as não oficiais, atearem fogo em pequenas áreas para depois debelarem as chamas e, dessa forma divulgarem suas ações com finalidade de obter patrocínio (…) um verdadeiro ‘reality show’, com a ação sendo registrada por intermédio de drones, câmeras filmadoras, e outros meios de captura de imagem”, é o que consta do inquérito, uma peça aos moldes atuais do direito à la Moro: repleta de convicções e termos como “certamente”, “perceptível”. Prova que é bom, nada.

A coisa toda é tão frágil e patética que um dos trechos de diálogo usados como indício de atividade criminosa dos rapazes nada mais é que uma brincadeira sobre o uso de maconha.

O brigadista João é classificado como “o fotógrafo que mais queima e apaga fogo do Amazonas”.

Como não havia alerta de ironia nem ‘kkkkkk’ no trecho grampeado, o bolsonarismo cretino não entendeu a piada e escreveu o seguinte:

“Essa conversa patenteia os rumores que ouvimos desde o início das investigações, que consiste no envolvimento direto dos líderes da brigada na queimada que assolou a APA (Área de Proteção Ambiental) de Alter do Chão, com o fito de ganharem notoriedade para angariar recursos.”

‘Rumores’, senhoras e senhores. E assim se vai em cana hoje em dia.

Com relação ao fato de produzirem imagens, um brigadista é editor de vídeo e outro é fotógrafo. Estão lá para registrar mesmo, algo que só surpreenderia se não fosse feito.

Ontem, o mesmo juiz que pediu a prisão autorizou a soltura – com as cabeças raspadas como se já condenados – de Daniel Gutierrez Govino​, João Victor Pereira Romano, Gustavo de Almeida Fernandes e Marcelo Aron Cwerner.

Está claro que tanto no caso do óleo no Nordeste como nas queimadas na Amazônia, o governo biroliro anda preocupado com a possibilidade de sua inércia ser interpretada futuramente como crime. Só isso explica as delirantes e burras justificativas inventadas para se esquivar da responsabilidade.

Como nos livraremos disso? Bombeiros têm uma técnica: fogo contra fogo.