Além de não controlar sua gangue, Temer fez de Dilma uma líder de massas. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 2 de dezembro de 2016 às 17:20

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Michel Temer está sendo uma decepção até mesmo para quem esperava pouco dele.

Os esforços da Globo — com Merval Pereira e Miriam Leitão à frente — não conseguem esconder a pusilanimidade e a capacidade infinita do interino para cometer erros estúpidos.

Dois ministros demitidos em duas semanas; o AGU e a secretária das mulheres em cima do telhado; medidas absurdas como cortar comida no Palácio da Alvorada (alguém pensou que isso poderia ser recebido de maneira positiva??). Etc.

Temer sempre foi um homem de bastidores. Embora alguns, como Delfim Netto, tenham tentado vender o contrário, nunca passou de um canalha secundário. Delfim, para quem não lembra, falou que MT é capaz de fazer tricô com quatro agulhas.

A fraqueza do interino está tão exposta porque ele é, ao fim e ao cabo, um zelador escolhido pelo condomínio. Temer não tem legitimidade e muito menos caráter para controlar e dar um sentido de coesão às forças dentro de sua gestão.

Ele foi eleito por 300 picaretas, a quem prometeu o que não tinha para dar. Ele foi eleito por Eduardo Cunha, o velho aliado, bandido que comandou a farsa do impeachment. Ele foi eleito pelo “mercado”.

O que o presidente em exercício faz é encaixar essa bandidagem no time de maneira atabalhoada. Como a corrupção nunca foi um problema no PMDB, é natural que ele não se importe com o currículo de gente que não resiste a uma pesquisa no Google.

Numa entrevista com Dilma no Planalto, eu quis saber quando ela notou que seu vice conspirava e por que não havia feito nada. Não houve uma resposta clara, mas o diagnóstico dela sobre Temer foi preciso.

“Eu achava que não [seria traída] por um motivo não mencionável. Não mencionável. Não vale a pena a gente falar das pessoas. Eu não me presto a isso”, começou.

“É importante lembrar que tem grupos fortes que escolhem agentes, e esses agentes mudam. Em momentos anteriores, os atores não estavam no PMDB, estavam no PSDB. O ator que foi retirado é aquele que foi vaiado numa manifestação que tinha que ser dele”, disse Dilma, referindo-se ao protesto na Paulista em que Aécio e Alckmin foram enxovalhados pelos coxinhas.

Temer é apenas um nome escolhido por quem a apeou do poder. Antes dele, Aécio parecia promissor. O tucano, mais sujo que pau de galinheiro, virou o que em inglês se chama liabilty, um risco. Temer passou a ser um cavalo com menos chance de dar errado.

A incompetência do interinato transformou a presidente afastada em líder de massas, acolhida em eventos por todo o Brasil, discursando como nunca, sem os característicos tropeços, contundente.

Um time que tinha tudo a favor — Congresso, mídia, juízes e dinheiro— pode perder a corrida no Senado por tropeçar nas próprias pernas e na flacidez moral do anão apontado como capitão da fraude.