Alemanha não pode esquecer os crimes nazistas, diz Merkel em visita histórica a Auschwitz

Atualizado em 6 de dezembro de 2019 às 15:40
Ao lado do premiê polonês, Mateusz Morawiecki, Merkel visitou o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau

PUBLICADO NA RFI

A chanceler alemã Angela Merkel fez nesta sexta-feira (6) uma visita histórica a Auschwitz. Esta foi a primeira vez que ela visitou o campo de extermínio, símbolo do Holocausto, em seus 14 anos de governo. Merkel disse que a lembrança dos crimes nazistas é “inseparável” da identidade alemã e que o país não pode esquecer as atrocidades cometidas pelo regime de Hitler.

Desde 1995, nenhum chanceler alemão havia ido a Auschwitz. A visita de Merkel coincide com a ascensão do antissemitismo e da extrema direita na Alemanha que prega teses negacionistas. O desaparecimento das últimas testemunhas dos horrores de Auschwitz também dificulta a transmissão da memória.

Ele fez um pronunciamento veemente, lembrando que a consciência da responsabilidade dos crimes nazistas “faz parte da identidade nacional” e que a manutenção da memória dessas atrocidades do passado não é negociável.

“Tenho vergonha profunda dos crimes bárbaros cometidos aqui pelos alemães. Não tenho palavras para descrever o horror do que foi feito a mulheres, homens e crianças neste lugar”, salientou a chanceler. “Que palavras poderiam fazer justiça à tristeza que este lugar causou? Luto pelos que foram humilhados, torturados e assassinados”, garantiu.

“Este é o lugar onde os crimes mais horríveis contra a humanidade foram cometidos. Não podemos permanecer calados. O próprio lugar obriga a manter viva a memória. Devemos lembrar claramente todos os crimes que foram cometidos aqui e chamá-los pelo nome”, concluiu.

“O trabalho liberta”

No início da manhã, ao chegar ao local, Merkel atravessou o portão do campo de concentração, localizado na Polônia, onde ainda há o sinistro slogan nazista: “Arbeit macht frei” (“O trabalho liberta”). A chanceler estava acompanhada do primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki, um sobrevivente de Auschwitz, Stanislaw Bartnikowski, 87 anos, e de representantes da comunidade judaica.

Na quinta-feira (5), a chanceler anunciou a concessão de € 60 milhões à Fundação Auschwitz-Birkenau para a manutenção do local, onde mais de 1,1 milhão de pessoas foram mortas entre 1940 e 1945. A visita de Merkel, nascida nove anos após a Segunda Guerra Mundial, ocorre pouco antes da comemoração do 75º aniversário da libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho russo, em 27 de janeiro de 1945.

Ela observou um minuto de silêncio em frente ao Muro da Morte, onde dezenas de milhares de detidos foram fuzilados. Em seguida, foi até o Birkenau, a três quilômetros do campo principal, e conheceu a rampa onde os deportados eram “selecionados” quando desciam dos trens de transporte de animais: os mais jovens, os mais velhos e os mais frágeis eram enviados diretamente para a morte nas câmaras de gás.

Ressurgimento do antissemitismo

Na Alemanha, a memória do Holocausto está no centro da reconstrução da identidade do país no pós-guerra e as autoridades estão preocupadas com o aumento de atos antissemitas. Em outubro, um ataque fracassado a uma sinagoga em Halle chocou a nação. O autor, que matou duas pessoas aleatoriamente, é um jovem adepto de teses negacionistas.

O partido de extrema-direita AfD, que entrou no Bundestag (Parlamento) há dois anos, defende o fim da política de manter viva a memória desse passado recente para garantir que as novas gerações não permitam que esses erros históricos se repitam.

O nome de Auschwitz se tornou um símbolo do mal absoluto. Judeus de toda a Europa, da Hungria à Grécia, foram exterminados no local. Muitos detidos, incluindo crianças, foram submetidos a experiências hediondas pelo dr. Josef Mengele, o “anjo da morte”. Também neste campo, que continha três câmaras de gás e quatro crematórios, que o gás Zyklon B (um pesticida a base de ácido cianídrico, cloro e nitrogênio, escolhido por provocar uma morte rápida) foi usado pela primeira vez em 1941.

Para o presidente do Conselho Judaico Central da Alemanha, Josef Schuster, “não há outro lugar de memória que mostre tão nitidamente o que aconteceu no Holocausto”. Antes de Merkel, seus antecessores Helmut Schmidt, em 1977, e Helmut Kohl, em 1989 e 1995, visitaram Auschwitz.